Godzilla e Kong garantem a diversão em duelo épico

Só pode haver um. E não estou falando dos guerreiros imortais de Highlander, mas de monstros gigantescos que não suportam a ameaça que outros como eles possam representar. São machos-alfas milenares, conhecidos como Titãs, e têm uma rixa antiga. Isso é basicamente o que você precisa saber para acompanhar Godzilla vs. Kong (2021), longa que mais uma vez coloca as criaturas frente a frente. Mas as gerações atuais vão ver o embate pela primeira vez, já que o anterior foi lançado em 1962.

Cada um dos dois tem diversos filmes desde suas origens, muitos produzidos pela lendária Toho. Nesse novo universo norte-americano, conhecido como Monsterverse, Godzilla já estrelou duas aventuras (que você confere aqui e aqui) e Kong, uma, ignorando inclusive o icônico filme de Peter Jackson (de 2005). Os três filmes, juntos, conduziram os personagens ao ponto em que os encontramos agora. Não que essa bagagem seja necessária, dá para começar aqui do zero, mas as referências ao que veio antes são muitas.

No início do filme, entendemos que Godzilla vive nas profundezas, sem arrumar confusões, e Kong é mantido isolado em sua Ilha da Caveira. Assim, os dois não se encontram e o temido confronto não acontece. Mas uma empresa com propósitos escusos se mete na história, ou não teríamos o filme. Temos algumas situações muito loucas, como o conceito de Terra oca (ao menos, não é plana), ou um cientista teórico desacreditado que sabe pilotar naves de tecnologia desconhecida, ou um túnel… Melhor não aprofundar nas inconsistências.

Quem vê um filme como Godzilla vs. Kong está esperando diversão, certo? Pois a obra entrega exatamente isso. Como as partes intermediárias de trilogias costumam fazer, o longa já começa com a ação, já que as apresentações foram feitas anteriormente. Temos um empresário ambicioso (Demián Bichir, de A Freira, 2018) que não confia em ninguém e manda a filha na nave (Eiza González, de Eu Me Importo, 2020). Dois cientistas serão o núcleo da missão: a que acompanha Kong há anos (Rebecca Hall, de Um Dia de Chuva em Nova York, 2019) e o tal professor que não conseguiu vender seus livros (Alexander Skarsgård, de Big Little Lies).

De volta de Godzilla II temos pai (Kyle Chandler) e filha (Millie Bobby Brown), e a garota mais uma vez vai contra as recomendações parentais e se mete na trama. Ela ganha dois reforços que acabam servindo de alívio cômico: o garoto gordinho atrapalhado padrão (Julian Dennison, de Deadpool 2, 2018) e o podcaster infiltrado paranóico (Brian Tyree Henry, de Coringa, 2019). Deram um jeito de colocar um ator japonês no meio, para evitar críticas, e Shun Oguri foi escalado.

Os personagens humanos parecem estar sobrando. O elenco se alterna entra os modos burocrático, constrangido ou deslocado, sendo que apenas Bichir parece se divertir. Um filme mudo, com apenas os dois monstros, seria bem mais interessante. Os dois destroem à vontade, os efeitos são à altura do projeto e a trilha não chega a incomodar. É o tal cinema-pipoca em sua mais alta expressão. E, afinal, um filme com The Hollies na trilha não pode ser de todo ruim.

Esses são os dois que importam

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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