Família coreana busca o sonho americano em Minari

Nos anos 80, Jacob Yi e a esposa, Monica, saíram da Coréia em busca de uma vida melhor nos Estados Unidos. Trabalhando muito e ganhando pouco na Califórnia, eles decidem se mudar com os filhos para a zona rural do Arkansas, onde Jacob poderá plantar alimentos característicos de sua terra natal e atender uma demanda existente. Ele vê nesse comércio o futuro de sua família, mas Monica é contra viverem ali, isolados. Ainda mais quando o filho pequeno tem uma condição cardíaca e o hospital fica a uma hora de distância.

Por essa trama básica, percebe-se que Minari (2020) não tem o roteiro mais original de Hollywood. O ótimo Terra de Sonhos (In America, 2002), por exemplo, vem à cabeça quando o assunto é tentar viver o “sonho americano” sendo de outro país. Assim como o colega irlandês, Minari tem alguns elementos que o alçam a outra categoria: a daqueles filmes sensíveis, poéticos, que ficarão na memória de seu público por um bom tempo.

A química entre os atores que vivem a família Yi é ótima. Não à toa, dois deles estão indicados ao Oscar, entre outros prêmios. Steven Yeun (de Okja, 2017) faz o pai, com Yeri Han como a mãe e Noel Kate Cho e Alan Kim como os dois filhos. A mãe de Monica logo se junta ao grupo, interpretada por Youn Yuh-jung (de Sense8), e fecha o núcleo familiar. De fora, temos o americano que ajuda Jacob com a plantação, o ex-combatente Paul (Will Patton, de Halloween, 2018). Yeun e Yuh-jung concorrem à estatueta careca (ator principal e atriz coadjuvante), mas todos funcionam muito bem, com destaque também para o pequeno Kim, assustadoramente maduro para a idade.

Além das interpretações, a fotografia de Minari é linda e explora bem o ambiente. Dentro do trailer ou pela natureza afora, a fotografia de Lachlan Milne (de Stranger Things) nos situa e enriquece o roteiro bem amarrado de Lee Isaac Chung, que ocupa também a cadeira de diretor – e foi indicado a Oscars nas duas funções. E as belas imagens são pontuadas pela discreta trilha de Emile Mosseri (de Homecoming), também indicado, totalizando seis menções no Oscar – a última categoria é Melhor Filme.

Com boa parte dos diálogos em coreano, o filme acabou indicado ao Globo de Ouro de Melhor Filme em Língua Estrangeira, e levou o prêmio. No Bafta, uma das seis indicações é exatamente essa, mesmo se tratando de um filme americano. Nascido no estado americano Colorado, Chung colocou um pouco de suas próprias experiências no roteiro, como o uso da tradicional planta Minari na culinária em sua casa. Essas memórias tornam o filme mais autêntico e os personagens, mais críveis.

É essa a planta que dá nome ao filme

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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