Um dos filmes mais comentados da temporada, Nomadland (2021) já levou alguns prêmios e não dá sinais de cansaço rumo a outros. Dois nomes se sobressaem na obra: a consagrada Frances McDormand, que pode levar seu terceiro Oscar como Melhor Atriz, e a diretora e roteirista Chloé Zhao, extremamente elogiada e com as mesmas chances de ganhar uma estatueta careca. Lembrando a estrutura de um documentário, o filme mostra de forma crua o outro lado do sonho americano.
Fern, a personagem de McDormand, é uma viúva na casa dos 60 anos que vive numa cidade devastada economicamente. Procurando por oportunidades de trabalho, ela entra na van e deixa tudo para trás, levando consigo o essencial. As viagens pelas estradas americanas são uma muito bem exploradas pela fotografia de Joshua James Richards, parceiro de Zhao já no terceiro trabalho juntos (após Songs My Brothers Taught Me, 2015, e Domando o Destino, 2017).
Enquanto pula de uma cidade para outra, Fern faz amizades com figuras bem interessantes, cada uma com uma história triste – e, muitas vezes, real. Várias pessoas vistas, inclusive, usam seus nomes verdadeiros, Zhao frequentemente trabalha com não-atores. Um deles é Bob Wells, espécie de líder dos acampamentos de nômades que conta sua história no filme numa cena não programada que acabou entrando e emocionando. Outros, como Swankie, vivem versões de si mesmos. A autora do livro no qual o roteiro se baseia, a jornalista Jessica Bruder, passou meses vivendo numa van, colhendo informações.
Como numa espécie de versão madura de Na Natureza Selvagem (Into the Wild, 2007), Fern não precisa se conhecer, mas superar os percalços impostos pela vida. McDormand, como de costume, está ótima, já é uma daquelas atrizes que merecem prêmios por lerem a lista telefônica. E ela ainda tem como colega de cena o grande David Strathairn (de Godzilla II, 2019), que tem algumas boas oportunidades e ainda levou o filho com ele.
Além de se focar na jornada da personagem, Nomadland também mostra claramente a situação econômica desesperadora dos Estados Unidos. O pano de fundo é o fechamento de empresas e o êxodo que isso força, já que as pessoas se veem obrigadas a saírem de suas casas em busca de uma renda. A chinesa Zhao adotou o país como seu lar e, por isso, aponta os problemas que vê, sem glamourizar ou exagerar o estilo de vida viajante. McDormand compra totalmente a ideia, se entrega e faz uma bela dupla com a diretora.
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