Superman ganha nova e criativa série no CW

Mais uma vez, temos um dos maiores heróis da DC Comics saindo das páginas dos quadrinhos para alçar voos em carne, osso e efeitos especiais. Superman & Lois é a nova atração do canal CW a compor o chamado Arrowverse, o universo televisivo de séries criado a partir de Arrow que reuniu os demais supers da editora. Mais uma vez, temos na produção o Midas do CW, Greg Berlanti, que bateu recordes de audiência.

Mesmo tendo escrito e produzido o fracassado Lanterna Verde (Green Lantern, 2011), Berlanti comandou séries elogiadas (lembra de Dawson’s Creek?) e acabou ganhando a confiança da DC para criar, com os colegas Andrew Kreisberg e Marc Guggenheim, a série do Arqueiro Verde. Ele aproveitou o sucesso de Arrow para introduzir um novo personagem, o Flash, que logo ganhou sua própria série. E assim foi com os vários personagens de Legends of Tomorrow, a Supergirl e, finalmente, o primo dela, o Superman. Isso, fora outros personagens que não fazem parte desse universo e também têm o dedo de Berlanti.

Geralmente, os produtos audiovisuais com o azulão nos mostram a juventude dele em Smallville (antigamente, chamada de Pequenópolis) ou a chegada em Metropolis, quando ele começa a trabalhar no Planeta Diário e conhece sua cara-metade, a premiada jornalista Lois Lane. Em 1993, tivemos a estreia de Lois & Clark, série que focava mais o relacionamento dos protagonistas, com vilões aparecendo ocasionalmente apenas para atrapalhar o romance dos dois. Clark frequentemente tinha que sumir, para que seu alter ego pudesse salvar o mundo, e Lois era deixada na mão.

Superman & Lois também se propõe a fugir do lugar comum. A diferença aqui, que promete tornar as coisas mais interessantes, é que essa nova série nos mostra Clark e Lois alguns anos à frente, mais velhos e com dois filhos adolescentes passando pelos conflitos da idade. Uma mãe presente, conciliando a família com sua carreira bem sucedida, e um pai que dificilmente participa dos eventos e se vê distante dos filhos. Isso tudo na velocidade do mundo de hoje, em uma grande metrópole, com os problemas que todos enfrentam.

Pelos primeiros episódios já exibidos nos Estados Unidos, podemos perceber que a trama familiar vai sempre ocupar um espaço grande na série. E não deixa de ser curioso acompanhar esse lado de Lois e Clark, um ao qual não estamos acostumados. Não se observa aqui o tom juvenil das demais séries do CW, que acabam agradando um público mais novo e torna o resultado restrito. Temos os gêmeos, com um ponto de vista próprio da faixa etária, mas temos também os adultos e os demais conflitos que afligem a comunidade.

Ao contrário do usual, o bilionário de caráter duvidoso de plantão, que compra as empresas e as pessoas por toda parte, não é Lex Luthor, mas Morgan Edge, também originado nos quadrinhos. E um vilão superpoderoso é apresentado no final do primeiro episódio, fazendo frente aos poderes do Superman. A série, ou ao menos a primeira temporada, deve rodar em torno desses antagonistas, além de desenvolver as questões familiares do casal principal.

Vistos inicialmente em Supergirl, temos novamente Tyler Hoechlin e Elizabeth Tulloch representando Clark/Superman e Lois. Hoechlin ainda deve ser lembrado por alguns como o filho de Tom Hanks em Estrada Para Perdição (Road to Perdition, 2002), mas já construiu um nome com outros trabalhos e tem a competência necessária pra um papel duplo complexo – além de ser fisicamente parecido com Christopher Reeve. E tem uma ótima química com Tulloch (de O Artista, 2011), que entende bem a essência de Lois e evita torná-la um estereótipo, a jornalista intrépida que vez ou outra é arrogante.

Outro destaque no elenco são os rapazes que vivem a nova geração dos Kents. Alex Garfin e Jordan Elsass (de Pequenos Incêndios Por Toda Parte, 2020) vivem dois irmãos bem diferentes, mas com uma cumplicidade própria de gêmeos. Quem já leu meia dúzia de revistas em quadrinhos na vida consegue prever o que o futuro pode guardar para eles. Completando o time, temos alguns nomes um pouco mais famosos, como Dylan Walsh, Emmanuelle Chriqui, Adam Rayner e Angus Macfadyen, como o grandioso Jor-El.

Com 15 episódios nessa primeira temporada e uma segunda já aprovada, Superman & Lois consegue a proeza de, mesmo se afastando do retrato usual de seu herói, ser mais fiel à fonte que outras produções mais badaladas. Berlanti, ao contrário de um Zack Snyder, deixou sua vaidade de lado e se voltou aos quadrinhos. Misturou vários elementos que encontrou com uma boa dose de criatividade e criou algo inusitado e, ao mesmo tempo, facilmente reconhecível. Se o fôlego se mantiver por todo o caminho, acompanhar será uma experiência agradável.

Com a estreia da nova temporada de Supergirl, Superman & Lois terá uma pausa

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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