Já em desenvolvimento há alguns anos, finalmente em 2019 a cinebiografia de Fred Hampton conseguiu sair do papel. O presidente da filial de Illinois do Partido dos Panteras Negras teve uma história muito interessante de luta, militância e traição e era questão de tempo até chegar aos cinemas. Quase que fazendo uma dobradinha tardia com Os 7 de Chicago (The Trial of the Chicago 7, 2020), chega Judas e o Messias Negro (Judas and the Black Messiah, 2021).
Assim como no filme de Aaron Sorkin, Judas traz uma história com grande força política ambientada no final da década de 60. Hampton também aparece no outro filme (vivido por Kelvin Harrison Jr.), orientando o colega Pantera Negra Bobby Seale, cofundador do partido. Agora, ganha o protagonismo na pele do ótimo Daniel Kaluuya (de Corra!, 2017), que compõe um personagem calmo, que calcula bem suas ações para evitar reações explosivas e dar um bom exemplo para seus liderados.
Além de Hampton, a outra figura marcante que conhecemos no início do filme é William O’Neal, vivido por LaKeith Stanfield (de Jóias Brutas, 2019). Ladrãozinho de rua, dos mais rasteiros, ele é preso e cooptado pelo FBI para se infiltrar nos Panteras Negras. Stanfield faz um grande dueto com Kaluuya: ambos têm personalidades fortes, sabem se colocar e fazem um trabalho fantástico. Enquanto Hampton é idealista e incorruptível, O’Neal é o sujeito que quer livrar a própria cara não se importando com o que terá que fazer ou sacrificar. Duas pessoas como as que conhecemos pela vida, que conseguem ser amigos apesar de suas diferenças.
Muito objetivo e bem montado, o longa não tem gorduras. O diretor e roteirista Shaka King (de Newlyweeds, 2013) demonstra ter a sensibilidade mais apropriada possível para a história e o teor político. Ele não foi o primeiro envolvido na produção, mas certamente foi uma escolha acertada. Duas ideias para um longa surgiram em paralelo, uma com os irmãos Kenny e Keith Lucas e outra com Will Berson, e os três se uniram a King para irem adiante. Nenhum dos quatro tem muita experiência no Cinema, mas aparentemente eles tinham muita paixão pela projeto, que fica clara na recriação da época e das situações.
Os registros da luta da população negra por seus direitos ganham aqui um grande reforço, ao lado de ótimos filmes recentes como Detroit em Rebelião (2017), Infiltrado na Klan (2018) e Uma Noite em Miami… (2020). Kaluuya já saiu na frente ganhando estatuetas e Judas e o Messias Negro ainda deve causar muito barulho na temporada de premiações. Merecido, por todas as suas qualidades técnicas e por fazer justiça a um grande líder do século XX que teve um fim injusto e violento. Uma tragédia que segue sendo muito atual.
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