Cinemas reabrem com Novos Mutantes

Com a reabertura dos cinemas, filmes várias vezes adiados estão entrando em cartaz. Esse é o caso de Os Novos Mutantes (The New Mutants, 2020), superprodução Marvel que busca uma abordagem diferente com seus personagens. Com um clima de terror, o longa se afasta das aventuras heroicas de costume, o que é uma inovação muito bem-vinda. O problema é que erra o alvo miseravelmente.

Enquanto Deadpool levou a ação para o lado da comédia e Logan mostrou um drama intimista, Novos Mutantes busca “uma mistura entre Stephen King e John Hughes”, como define o diretor e roteirista Josh Boone. Ele saía do sucesso do romance adolescente A Culpa É das Estrelas (The Fault in Our Stars, 2014) e levou a ideia aos produtores dos X-Men, Simon Kinberg e Lauren Shuler Donner. Nascia ali a proposta para mais uma trilogia.

Baseado nos quadrinhos de Chris Claremont e Bill Sienkiewicz, o roteiro (coescrito por Knate Lee) reúne cinco jovens mutantes num hospital (a mesma locação usada em Ilha do Medo, 2010). Coordenados pela Dra. Cecilia Reyes (Alice Braga, de A Cabana, 2017), eles devem dominar seus poderes para serem liberados a conviver em sociedade. Todos eles têm um passado de destruição e morte e convivem com a culpa. A terapia da Dra. Reyes visa prepará-los para o mundo.

 

Citando sempre um superior, que todos deduzem ser o Professor Charles Xavier, a doutora vigia os cinco o tempo todo e de cara fica claro para o público que há algo errado. A personagem que conduz o público é Danielle Moonstar (Blu Hunt, da série The Originals), uma garota indígena que teve sua tribo devastada e é acolhida por Reyes. Dani não sabe do que é capaz e guarda uma raiva imensa pela perda do pai e amigos.

Os outros quatro jovens formam um grupo bem distinto. Sempre lembrada por Game of Thrones, a inglesa Maisie Williams vive Rahne Sinclair, uma escocesa religiosa em crise com sua fé. Outro inglês, Charlie Heaton (de Stranger Things), faz um ótimo sotaque caipira do Kentucky como Sam Guthrie. Revelada em A Bruxa (The Witch, 2015) e sucesso do momento em O Gambito da Rainha, a americana Anya Taylor-Joy vive uma mutante russa bem marrenta. Fechando o grupo, temos outro brasileiro (além de Braga), Henry Zaga (de 13 Reasons Why), que faz Roberto da Costa, personagem visto anteriormente na franquia dos X-Men com outro ator.

O elenco é competente e os efeitos especiais são satisfatórios. O problema de Novos Mutantes é a conveniência frequente do roteiro. Quando é necessário, as coisas acontecem de certa forma. Os poderes, por exemplo, são usados quando Boone determina, e em outros momentos os personagens simplesmente optam por sair correndo. Colocar uma única pessoa para cuidar de cinco jovens superpoderosos é a coisa mais estúpida que poderiam fazer, mesmo sendo ela própria uma mutante. Por que Roberto está sempre lavando panelas é algo que nunca entendemos.

Apresentar jovens mutantes que não dominam suas habilidades não é exatamente uma novidade é foi muito bem-feito em Primeira Classe (X-Men: First Class, 2011). É bem possível se divertir com Os Novos Mutantes, algumas sequências são interessantes o suficiente. Se houver continuação, certamente vai perder essa aura de terror, e terá a obrigação de ser melhor. Se ficar só nesse, logo será esquecido. Se é que já não foi.

Anya Taylor-Joy é uma das atrizes mais comentadas do momento

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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