por Marcelo Seabra
Uma história cara ao povo cubano finalmente chegou às telas, distribuída pela Netflix. Wasp Network (2019) é o longa que adapta o livro de Fernando Morais sobre o drama dos chamados Cinco de Cuba, cidadãos cubanos que desertaram para os Estados Unidos para fugir do regime de Fidel Castro. Tidos como traidores por seus pares, eles na verdade eram espiões infiltrados na comunidade cubana na Flórida.
Na década de 90, Cuba começava a se recuperar do baque que sofreu quando perdeu seu principal parceiro econômico, a União Soviética. Com o embargo norte-americano, tudo era muito difícil, mas Castro e companhia estavam conseguindo dar a volta por cima, levando o país a um período de prosperidade. O principal fator a ajudar nessa retomada foi o turismo, que levava gente do mundo todo à ilha e fazia entrar dinheiro no comércio local.
Grupos anticastristas reunidos em Miami promoviam ataques a Cuba na tentativa de minar o governo. Quando novos hotéis de luxo passaram a chamar muita atenção, eles se tornaram o alvo de bombas e invasões, visando aterrorizar e afastar turistas. Em contrapartida, o governo cubano recrutou algumas pessoas em posições interessantes para infiltrá-las entre os conterrâneos vivendo no vizinho de cima. Um grupo de 12 homens e duas mulheres, muitos deles sem contato entre si, formava a Rede Vespa, que coletava informações para impedir ataques e salvar vidas, além da economia do país.
No filme, escrito e dirigido por Olivier Assayas (de Personal Shopper, 2016), conhecemos Rene Gonzalez (Edgar Ramírez, de A Garota no Trem, 2016), um piloto e instrutor de voo que usa um avião do trabalho para ir para a Flórida e se apresentar às autoridades como desertor. Deixando para trás esposa (Penélope Cruz, de Dor e Glória, 2019) e filha (acima), Gonzalez arruma emprego em Miami e logo faz contato com Jose Basulto (Leonardo Sbaraglia, de Neve Negra, 2017), figura influente entre os cubanos locais.
Claramente dividido ao meio, o longa começa contando uma história de família, com Rene e esposa, e vai inserindo os demais personagens, como os vividos por Wagner Moura e Ana De Armas (mesmo casal de Sergio, 2020). Depois, com uma narração que esclarece o cenário até então insipiente, estabelece a Rede Vespa e apresenta o líder do grupo, interpretado por Gael García Bernal (de Ema, 2019). Um elenco estrelado, do qual apenas De Armas é de fato cubana, mas que resolve bem. Moura vem falando espanhol nas telas há algum tempo (como em Narcos) e os demais são nativos da língua, disfarçando os diferentes sotaques.
Assayas tem uma filmografia diversa e não se prende apenas a sua França natal. É dele, por exemplo, a minissérie Carlos, o Chacal, que traz Ramírez como o terrorista venezuelano. Numa aparente tentativa de não tomar partido, Assayas conduz Wasp Network de cima do muro, com medo de determinados enfoques, o que deixa o público perdido. Os personagens rapidamente perdem importância na trama e, fora o casal protagonista, conhecemos pouco dos demais. O letreiro final ajuda a situar os destinos de cada um, mais uma vez apelando a uma explicação mastigada para dar conta do que fugiu ao roteiro.
O trabalho dos atores é o que mais traz méritos para a produção. Muitos deles já se conheciam de outros projetos e todos demonstram familiaridade, o que vende bem a ideia de serem compatriotas. Só a narrativa que não ajuda, deixando o resultado bem na média. Wasp Network não aponta o dedo aos Estados Unidos, responsáveis por boa parte dos problemas de Cuba, e tampouco homenageia os Cuban Five, cuja heroica jornada foi narrada em detalhes em Os Último Soldados da Guerra Fria, de Fernando Morais. Espiões sem luxos ou trocas de tiros, com os dois pés na realidade.
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