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Peaky Blinders melhora a cada temporada

por Marcelo Seabra

Com cinco temporadas curtas disponíveis na Netflix, Peaky Blinders é uma ótima opção para maratonar. Mesmo porque é bem difícil assistir a um episódio e não seguir automaticamente ao próximo. Com uma produção impecável, Steven Knight recria a Birmingham do período entre guerras para nos apresentar à família Shelby, ciganos que escolhem a cidade para viver e onde também montam um império criminoso.

À frente do grupo, temos Thomas Shelby, vivido pelo irlandês Cillian Murphy (o Espantalho da trilogia do Batman). Tommy é um veterano de guerra que perdeu seus ideais e praticamente sua sanidade nos combates na França e, ao voltar para casa, passa a dominar as apostas de cavalos, fazendo fortuna para si e para a família. Com um modo característico de se vestir, de terno e boina, o grupo se chama de Peaky Blinders.

Quem pensa que se trata puramente de ficção está enganado. Knight, o criador da série (e de Locke, 2013), se apropria de alguns fatos e nomes para deixar a atração bem cravada na realidade. Os verdadeiros Peaky Blinders existiram desde antes da Primeira Guerra e acabaram presos ou derrotados por gangues rivais, como os Birmingham Boys ou a Gangue do Sabini. Mas o nome virou sinônimo de juventude violenta, podendo ser usado para descrever qualquer arruaceiro.

Na série, Tommy faz os planos, monta a logística e dá as ordens a seus soldados. Seu irmão mais velho, Arthur (Paul Anderson, de O Regresso, 2015), é o braço direito, e a tia Polly (Helen McCrory, de Skyfall, 2012) completa a liderança, com outros membros da família e funcionários das empresas Shelby participando da execução. E o que não falta para Tommy é desafeto, além de vez ou outra fazer alianças, o que proporciona participações especiais na série. Temos gente do peso de Sam Neill, Tom Hardy, Adrien Brody, Aidan Gillen, Noah Taylor, Paddy Considine e um surpreendentemente bom Sam Claflin.

Além das ótimas atuações, com atores escolhidos a dedo para representar as nacionalidades de seus personagens, temos uma fotografia urbana fantástica, ressaltando o que é necessário no momento, das ruas sujas e escuras a um salão de festas ornamentado e iluminado. Figurinos perfeitos completam o quadro, e temos uma ótima ideia do que era viver naquela época. Os costumes são muito peculiares, como entregar a arma ao entrar no parlamento e pegá-la de volta na saída. Todos andavam armados e cheiravam cocaína sem cerimônia.

Outro elemento que chama muito a atenção na série são as ótimas músicas que marcam as cenas, de alguns segundos a sequências mais longas. A trilha inclui clássicos (como Black Sabbath), versões de sucessos (como Wonderful Life e I’m No Good), grandes bandas mais recentes (como The White Stripes e Arctic Monkeys) e heróis do cenário independente, caso do ótimo Nick Cave com sua Red Right Hand. A faixa iria apenas aparecer no primeiro episódio, mas casou tão bem que foi adotada como tema da série.

Os assuntos tratados ao longo de Peaky Blinders vão se alternando entre questões familiares, rixas com outros grupos, negócios lícitos e ilícitos, amores, mortes e bebidas. Cerveja, gim e whisky são consumidos à vontade. À medida que a quinta temporada se aproxima, o tom político cresce e as coisas se tornam ainda mais interessantes, além de atuais. Isso torna a espera pela sexta temporada uma tortura. Segundo Knight, o planejamento prevê sete temporadas, chegando ao primeiro ataque aéreo a Birmingham na Segunda Guerra Mundial, que ocorreu em 25 de junho de 1940. É quando a saga dos Shelby termina.

Esses são alguns dos Peaky Blinders verdadeiros que inspiraram a série

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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