por Marcelo Seabra
Baseado num artigo de Robert Kolker, publicado na revista New York, o roteiro de Mike Makowsky (de Take Me, 2017) nos leva a 2002, em Long Island, onde fica a Roslyn High School. Quarta melhor do país, a escola deve seu status ao superintendente local, Dr. Frank Tassone (Hugh Jackman), um sujeito simpático, boa pinta e admirado por todos. Tassone é a personificação do sucesso e é imediatamente associado a Roslyn, e ele faz questão de cuidar da aparência, preocupado como poucos.
Fazendo o trabalho diário sempre com o auxílio da sua braço direito, Pam Gluckin (Allison Janney), Tassone constantemente está disponível aos alunos e pais, agradando a comunidade como um todo. E não podemos nos esquecer que uma boa escola aumenta o valor dos imóveis na vizinhança, o que agrada o mercado e o chefe da junta escolar, Bob Spicer (Ray Romano), que é também um grande corretor imobiliário. Resumindo: todo o cenário escolar de Roslyn é um caso de sucesso.
Em algum momento, essa fachada de perfeição vai ruir. Um improvável trabalho jornalístico revela o que seria o maior desvio de verbas do sistema de ensino norte-americano. Uma montagem competente nos apresenta o necessário para rapidamente nos conduzir à conclusão, dando a impressão de o filme ser mais curto que seus 110 minutos. Makowsky fala do que de fato conhece, tendo sido ele próprio aluno de Roslyn e conhecido as figuras retratadas. Nenhum deles teve envolvimento com a produção.
À frente do elenco, Hugh Jackman faz um trabalho excepcional. Em nada, ele lembra seu Wolverine (visto por último em Logan, 2017), estando bem mais magro e lutando contra um leve envelhecimento. Sempre bem vestido, Tassone é um homem de modos requintados, calculados, e Jackman contribui com todo o seu carisma para torná-lo tridimensional. Janney (Oscar por Eu, Tonya, 2017) traz uma determinação agradável, nos fazendo gostar dela mesmo quando suas ações são reprováveis. Romano (de O Irlandês, 2019) completa o trio principal com um jeito manso, quase um tio bonachão, aquele que sempre espera o melhor das pessoas.
Má Educação toca em alguns assuntos muito interessantes. Vemos, por exemplo, o que o excesso de liberdade ao lidar com dinheiro pode fazer com um indivíduo. E a segurança que uma pessoa vaidosa tem naturalmente, se achando mais inteligente que as demais. E é sintomático perceber o quanto pessoas hipócritas apoiam o trabalho jornalístico só até que suas maracutaias sejam descobertas. Esses são alguns dos motivos para conferir o longa. Diretor do elogiado Puro-Sangue (Thoroughbreds, 2017), Cory Finley vai se consolidando como um nome para se acompanhar.
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