por Marcelo Seabra
Em agosto de 2003, um atentado a bomba contra a sede da ONU em Bagdá fez 22 vítimas. Um dos funcionários que estava presente era Sérgio Vieira de Mello, então detentor do título de Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Com 34 anos de trabalho na organização, ele era conhecido pela simpatia, humildade e por defender seus valores. E era também o provável sucessor do Secretário Geral Kofi Annan. Depois de um documentário lançado em 2009, o diretor Greg Barker partiu para a versão ficcionalizada, já disponível na Netflix.
Sergio (2020) começa no fatídico desabamento do prédio usado pela ONU na capital iraquiana. O país vivia um conflito sangrento e Sérgio vinha de uma vitória diplomática no Timor Leste, já independente da Indonésia. A equipe estava no país desde maio e ficaria apenas mais seis semanas. Partindo desse dia, o longa vai e volta no tempo, visitando vários momentos da vida de Sérgio – como o diplomata fazia questão de ser chamado por todos. Essa montagem truncada acaba sendo um artifício para tornar as coisas mais interessantes, como se isso fosse necessário, tratando-se de Vieira de Mello.
No papel principal, temos o também produtor do longa Wagner Moura, um dos maiores nomes do Brasil no Cinema hoje. Com um jeito muito afável, ele cria um personagem de sorriso fácil, que conversa com todos e dispensa a mesma atenção a presidentes, guerrilheiros e artesãos. Logo, conhecemos Carolina Larriera, economista argentina vivida pela cubana Ana de Armas (de Entre Facas e Segredos, 2019). O romance entre Sérgio e Carolina toma boa parte do filme, buscando mostrar um outro lado do diplomata.
Quando a moça entra em cena, não sabemos como é a situação marital de Sérgio, e aos poucos recebemos mais informações. Ainda nesse esforço de humanização, descobrimos que ele tem dois filhos com os quais não tem tanto contato. Ao mesmo tempo em que mostra algo que pode ter uma conotação de defeito, o roteiro se desequilibra pintando quase um super-herói, alguém que parece resolver atritos internacionais sérios contando apenas com sua presença de espírito. Todo o trabalho de estudo e preparação se torna desnecessário, já que as saídas vêm invariavelmente de inspirações divinas. Basta olhar pela janela e a solução brota.
As situações profissionais que Sérgio precisa intermediar ficam em segundo plano quando é revelado como ele e Carolina se conheceram, e os programas que os dois faziam, e até os dois na cama – o que fica totalmente deslocado. Aí está a principal diferença entre esta adaptação do livro da escritora Samantha Power e o documentário anterior, também baseado na obra de Power: o foco. O roteirista Craig Borten tem experiência com histórias reais, ele assina Os 33 (The 33, 2015) e Clube de Compras Dallas (Dallas Buyers Club, 2013). Aqui, no entanto, ele perdeu a mão.
Falando português, inglês, espanhol e francês, Moura exibe a segurança de sempre, e de Armas vem se mostrando uma atriz bem interessante. Os demais membros do elenco compõem bem o conjunto, com destaque para Brían F. O’Byrne (atualmente na série do Colecionador de Ossos), como o braço direito de Sérgio, e Garret Dillahunt (de As Viúvas, 2018), que vive o bombeiro que tenta ajudar nos escombros. Além dos bons atores, um mérito de Sergio é mostrar que seu protagonista não abaixava a cabeça para países, por mais poderosos que fossem. Não por orgulho ou vaidade, por buscar atingir um bem maior, coletivo. Sérgio Vieira de Mello merecia um filme à sua altura.
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