por Marcelo Seabra
Dificilmente uma série vai te fazer rir e chorar como Fleabag. Ainda mais com tão poucos episódios. E com tanta frequência. Duas temporadas, cada uma com seis episódios curtos, provam a genialidade de Phoebe Waller-Bridge, criadora da atração e intérprete da protagonista. Como vários outros personagens lá, ela não tem nome, sendo creditada como Fleabag. A exemplo de muitos de nós, ela é uma jovem confusa, sarcástica e espirituosa. Popularmente, diriam que ela está na lama.
Surgida numa esquete teatral em 2013, Fleabag chegou à BBC em agosto de 2016 e foi comprada pela Amazon, que disponibilizou a temporada em seu serviço de streaming. Em 2019, foi produzida a segunda temporada, que leva os personagens adiante e acaba de deixar o público apaixonado por eles. Mesmo que não passemos tanto tempo com eles, logo nos afeiçoamos e Waller-Bridge é cirúrgica ao apresentar o que precisamos saber.
A protagonista é uma londrina em seus trinta e poucos anos que gerencia um café enquanto busca seu lugar no mundo. A irmã, Claire (Sian Clifford), é uma executiva que parece trabalhar muito para ficar longe do marido insuportável (Brett Gelman, de Stranger Things). O pai (Bill Paterson), um ser amável que parece incapaz de terminar uma frase, se envolveu com uma amiga da falecida esposa e a relação causa atritos com as filhas, de quem ela é madrinha. A curiosa mulher em questão é vivida por Olivia Colman, vencedora do Oscar de Melhor Atriz por A Favorita (The Favorite, 2018). E o interessante é que ela é apenas uma dos vários ótimos intérpretes na série.
Todos se integram muito bem e temos a sensação de estarmos vendo velhos conhecidos em cena, tamanha é a familiaridade entre eles. Na segunda temporada, temos a ótima adição de Andrew Scott (de 007 Contra Spectre, 2015), que chega como um padre descolado que bebe e fala palavrão. Mas o show sempre foi e segue sendo de Waller-Bridge, que parece ter o público na palma da mão, conduzindo-o como lhe convém. Cada olhada cínica para o lado, quebrando a quarta parede, reforça a cumplicidade entre os dois lados da câmera. Torcemos por ela mesmo sabendo que suas decisões podem não ser as melhores. Ela é apenas humana.
Com a bolsa cheia de prêmios (entre eles Globos de Ouro, Baftas, Emmys e os dos sindicatos de roteiristas americanos e britânicos) e outras dezenas de indicações, Fleabag já se provou um sucesso de crítica e público. Waller-Bridge, que escreve outras séries (como Killing Eve) e participa como atriz aqui e ali (como em Han Solo: Uma História Star Wars, 2018), fez seu nome definitivamente com essas tramas inusitadas e esses diálogos incisivos e brilhantes. E ela ainda arrumou tempo para coescrever o novo longa de James Bond. Para nossa tristeza, só não deve colocar em sua agenda uma nova temporada de Fleabag. Para ela, “foi uma bela despedida”.
Eu nao sei se posso dizer que to surpreso pela série, ja que todo mundo fala bem dela. Mas eu realmente não esperava gostar tanto. Dá vontade de assistir a tudo de novo.
É triste saber que não terá continuação…