Paulo Gustavo fecha a trilogia de Dona Hermínia

por Marcelo Seabra

Tendo levado milhões aos cinemas e arrecadado o suficiente para estacionar no primeiro lugar das bilheterias nacionais, Dona Hermínia é um inegável fenômeno. O que não fica claro é o porquê. Minha Mãe É Uma Peça 3 (2019) está em cartaz em trocentas salas, com diversas sessões esgotadas, e continua no lugar-comum das comédias padrão Globo Filmes.

Em 2013, Paulo Gustavo levou sua peça de sucesso à tela grande e usou todo o material que tinha. Alguns momentos realmente engraçados se alternavam com comentários espirituosos, evitando repetir preconceitos numa comédia para todos os públicos. Tamanho foi o sucesso que o comediante teve que correr e produzir outro episódio, e a falta de conteúdo ficou muito clara. Com todo o estoque de piadas gasto no primeiro, só sobrou gritaria e palavrões. O segundo filme não tem sequer um bom momento, com situações requentadas e clichês mal amarrados.

Inspirado por sua mãe e sua própria vida, Paulo Gustavo criou a Dona Hermínia, mãe de três que dispara milhares de palavras por segundos. Ela faz observações sarcásticas sobre tudo e todos, em meio a um cotidiano de dona de casa que não tem de fato nada para fazer, já que o trabalho doméstico fica por conta da empregada. A ela, sobra fazer compras no supermercado, sair com as amigas da terceira idade, arrumar confusão com o ex-marido e atazanar os filhos.

Além do filho mais velho, que mora em outro estado e pai de seu único neto, Hermínia tem outros dois que moravam com ela. Nessa terceira parte, tanto Marcelina (Mariana Xavier) quanto Juliano (Rodrigo Pandolfo) já estão se arrumando na vida, cada um em sua casa, e a mãe fica esperando o telefone tocar para ter a oportunidade de se meter nas vidas deles. Com uma grávida e o outro se casando, é um prato cheio para ela.

Com longas tomadas pelo Rio de Janeiro, o filme tem trechos que parecem mais clipes da prefeitura da cidade. E, falando em clipes, as músicas usadas causam momentos constrangedores, com as personagens cantando sem razão. Piadinhas internas não faltam, como as que envolvem o filme Minha Vida em Marte (2018) e o ator Herson Capri, o Carlos Alberto da história. As boas intenções são visíveis, mas resultam em barras forçadas e mais constrangimento. No entanto, as risadas rolam soltas na sessão, bastando a protagonista gritar “Marcelina!” para todos desabarem em risos. Quando ela resolve dar um apelido, então, ouvimos a mesma coisa seis vezes seguidas e todos riem nas seis.

Como há uma série com a Dona Hermínia em desenvolvimento, dá para apostar que uma trilogia foi o suficiente no Cinema. Na televisão, só Deus sabe onde isso vai parar. O lado bom é saber que Paulo Gustavo se sai bem melhor na telinha, em quadros curtos. As chances de um melhor resultado aumentam. O ator e roteirista tem carisma de sobra para gastar e certamente terá vida longa no mundo artístico. Dona Déa Lúcia, a mãe dele, parece mesmo ser uma peça, como vemos nas cenas reservadas ao final. Mas, como personagem de Cinema, já passou da conta faz tempo.

Este é, de longe, o pior momento do filme

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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