por Marcelo Seabra
Quem reclama da falta de criatividade do cinemão americano, que requenta tudo o que pode, tem um novo ótimo argumento. A velha prática de transformar séries em longas volta a atacar com As Panteras (Charlie’s Angels, 2019). A atração surgiu como série em 1976 (até 1981), virou dois filmes (2000 e 2003), voltou como série (2011) e agora é de novo um filme. É o típico projeto em que notamos boas intenções por toda parte, e mesmo assim o resultado deixa muito a desejar.
Ocupando a direção pela segunda vez (A Escolha Perfeita 2 é de 2015), Elizabeth Banks (vista em Brightburn, 2019) faz uma obra que ressalta bastante o papel da mulher. Afinal, elas estão para todo lado, à frente e atrás das câmeras. É bem bacana ver uma trama em que os homens são relegados a posições de vilões, sendo retratados como bobos ou, no mínimo, brutos de poucas palavras. E as agentes não deixam nada a dever nas cenas de lutas, perseguições ou qualquer outra situação normalmente ocupada pelo macho de plantão.
Por isso, apesar do visível esforço dos envolvidos, é frustrante ver o produto final. Personagens sem qualquer apelo junto ao público e sem química entre elas, em cenas mal orquestradas e confusas onde as coisas acontecem porque precisam acontecer, ou o roteiro não andaria. Não tudo está perdido: temos boas atuações e algumas piadas até funcionam. Mas, de forma geral, o humor é forçado, principalmente no que diz respeito à agente vivida por Kristen Stewart (de Café Society, 2016), que deveria irritar apenas a séria Jane (Ella Balinska, de The Athena) e consegue muito mais do que isso.
A trama nos mostra de cara que existem muitas Panteras do Charlie, o milionário por trás de uma agência que combate o crime pelo mundo – e é só isso que sabemos. E assim também temos vários Bosleys, o intermediário que orienta as garotas. Com essa brecha, o filme aproveita para homenagear intérpretes que passam pelo universo das Panteras desde o início. Dessa vez, Bosleys metem mais a mão na massa e participam das ações. As agentes Sabina e Jane começam com o pé esquerdo e pouco depois têm outra missão em conjunto. Elas devem proteger uma cientista (Naomi Scott, a princesa de Aladdin, 2019) e investigar as denúncias dela. Fora um cartão de visitas, não sabemos como se deu esse arranjo e como rapidamente todos confiam em todos.
Com esse fiapo de roteiro, Banks cria mais uma trama megalomaníaca falsamente intrincada, daquelas que vão e voltam para parecerem muito elaboradas. Fora ver o tanto que ficou forte o pequeno nerd de Sleepers (1996) e 100 Garotas (100 Girls, 2000), Jonathan Tucker, o filme guarda poucas surpresas. O tal Noah Centineo (acima), que a Netflix tentou transformar em galã com O Date Perfeito (The Perfect Date, 2019), aparece numa ponta bem deslocada, e temos ainda participações de Patrick Stewart (o Professor Xavier dos X-Men clássicos), Djimon Hounsou (o Mago de Shazam, 2019) e Sam Claflin (de Como Eu Era Antes de Você, 2016).
Como na franquia de James Bond, temos cenários bonitos, festas caríssimas e veículos luxuosos. Mas As Panteras não se leva tão a sério, o que gera momentos divertidos. Mas, com tantos defeitos, o público também acaba não o levando a sério. A publicidade enfatiza o fato de a música-tema ser de três cantoras da moda, o que está longe de levar gente às salas. Talvez, passado esse primeiro contato, essa espécie de filme de origem, as agentes tenham mais o que dizer numa próxima aventura. Basta aguardar os resultados da bilheteria para sabermos se elas terão essa oportunidade.
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