por Marcelo Seabra
Coringa (Joker, 2019) reinou tranquilamente por três semanas nas bilheterias nacionais, mas sua paz acabou. Roubando o primeiro lugar do Palhaço do Crime, chega Malévola: Dona do Mal (Maleficent: Mistress of Evil, 2019), sequência Disney que retoma a história da Bela Adormecida contada no longa de 2014. Cinco anos separam os filmes, e o tempo não foi gentil. A impressão que fica é que o conteúdo foi gasto no primeiro, deixando muito pouco para o segundo.
Trabalhando num ritmo mais lento, dando espaço para outros interesses, Angelina Jolie volta ao papel da vilã de desenhos animados tentando dar a ela mais profundidade. Agora, Malévola tem algo perto de uma origem, ou ao menos o filme abre espaço para uma. Enquanto descobrimos um pouco sobre o passado dela, encaramos o futuro de Aurora (Elle Fanning). Agora rainha do povo encantado de Moors, ela se reencontra com o Príncipe Phillip (Harris Dickinson, de Mentes Sombrias, 2018) e os dois acertam um casamento que unirá seus povos. Essa é uma notícia que não vai agradar a todos.
Além das maravilhosas protagonistas, temos a adição de Michelle Pfeiffer (de Vingadores: Ultimato, 2019). Como no primeiro filme, as mulheres são fortes e têm um papel importante, não ficando à sombra de homem algum – em geral, eles são todos uns bananas. As personagens de Fanning e Pfeiffer funcionam como antagonistas, enquanto a Malévola de Jolie fica no meio, entre idas e vindas. A história (novamente de Linda Woolverton) parece indecisa ao mostrar o posicionamento da personagem-título. Ela deveria ser uma vilã, mas isso não traria a simpatia do público. A solução encontrada foi destinar a ela várias piadinhas deslocadas, que diminuem consideravelmente sua força.
A Rainha Ingrith (Pfeiffer) tenta esconder suas intenções, mas tudo fica claro nos minutos iniciais, quando ela se estabelece como a vilã. Mesmo ensaiando uma explicação meia-boca, suas motivações são pré-fabricadas, servem apenas para termos uma desculpa para essa aventura. A obra é visualmente estonteante, com criaturas fantásticas e cenários grandiosos. Há uma boa dose de criatividade, mas falta propósito. Os seres, por exemplo, são facilmente substituíveis e, com raras exceções, não têm importância alguma para a trama. Os efeitos especiais são exagerados, causando mais estranhamento que satisfação.
Chega a ser revoltante ver um ator do quilate de Chiwetel Ejiofor (de Maria Madalena, 2018 – acima) desperdiçado, e Ed Skrein (de Alita: Anjo de Combate, 2019) mais uma vez irrita pelas caretas e pela participação rasa. Imelda Staunton, Lesley Manville e Juno Temple voltam a viver as fadinhas engraçadinhas que mais parecem umas senhoras fofoqueiras. Quem ganha mais destaque é Sam Reily, já que o corvo Diaval passa mais tempo em sua forma humana. E a adição mais interessante, mesmo que com pouco destaque em cena, fica por conta de Warwick Davis (de Han Solo, 2018), um duende explorado que trabalha feliz para seus algozes – algo bem atual!
Sem se aprofundar em nenhum dos pontos levantados, Dona do Mal cumpre tabela levantando uns bons dólares para a Disney, mas não chega longe. Jolie tem outros projetos em andamento e não deveria se preocupar em voltar à personagem. Foi bom, foi marcante, mas acabou. Ainda vamos ter que aguentar várias adaptações em live action da Disney, nada mais que a mesma história dos desenhos, mas com atores – ou não, caso de Rei Leão. Mas não duvido que virá por aí um Malévola: A História de Aurora, recontando o clássico de Charles Perrault. Estúdios dificilmente sabem a hora de parar.