por Marcelo Seabra
Acostumado a dramas familiares e pessoais mais intimistas, o diretor e roteirista James Gray já havia partido para um projeto de proporções maiores com Z: A Cidade Perdida (2016). Três anos depois, ele mistura as duas propostas: um filme caro, visualmente ambicioso, mas ainda sim uma história totalmente focada em um sujeito e suas questões. Ad Astra (2019) tem, além de qualidades técnicas, a presença de um Brad Pitt maduro, segurando a obra nas costas.
Um dos destaques de Era Uma Vez… Em Hollywood (2019), Pitt emplaca outro trabalho no mesmo ano, este como protagonista. O início promissor nos avisa que se trata de um futuro próximo, com diferenças pontuais para o nosso hoje. No meio de uma situação misteriosa e catastrófica, conhecemos Roy McBride (Pitt) e suas qualidades. O astronauta é capaz de se manter tranquilo no caos e reage bem sob pressão. No entanto, não é por isso que ele é escolhido para sua próxima missão.
McBride descobre no susto, sem mais informações, que seu pai há muito desaparecido pode estar vivo. H. Clifford McBride (Tommy Lee Jones, de Homens de Preto) foi um dos membros mais brilhantes do serviço espacial e liderou um projeto secreto para Netuno. Algo deu errado e nunca mais tiveram notícias dele. Agora, há razões para acreditar que ele seja o responsável pela tal situação catastrófica e Roy é convocado para fazer um apelo ao pai.
Até esse ponto, já conseguimos apontar furos no roteiro, que dá informações e não se preocupa em embasá-las, ou explicá-las. Daí para frente, Gray e seu parceiro Ethan Gross (da série Fringe) vão se perdendo de forma acelerada, entregando um roteiro que não respeita as próprias premissas. As informações que temos dos personagens são abandonadas tão logo seja necessário, e eles tomam providências que não batem com o que sabíamos.
A relação entre Roy e H. (ninguém se preocupou em dar um primeiro nome ao sujeito) e tudo o que aconteceu ao veterano lembra muito Apocalipse Now (1979). Ao considerarmos as relações familiares e o pano de fundo espacial, nos aproximamos de Interestelar (2014). E há cenas que nos remetem diretamente a Gravidade (2013). Ou seja: pouca coisa em Ad Astra é original. As metáforas, além de rasteiras, já foram vistas antes. E não ajuda em nada ter um subtítulo – Rumo às Estrelas – que repete o título, apenas traduzindo do latim.
Pitt de fato está muito bem como Roy, um cara distante que não consegue ter qualquer proximidade com os colegas de trabalho, que nunca passam disso. Nem com a esposa (uma pequena participação de Liv Tyler, de A Tentação, 2011), ele consegue estabelecer algo íntimo, e o ator convence evitando possíveis armadilhas, como a apatia. Além do protagonista, Tommy Lee Jones, Donald Sutherland (de Jogos Vorazes) e Ruth Negga (de Warcraft, 2016) fazem o melhor que podem com o que cabe a eles. Acabam perdendo destaque para os efeitos especiais, esses sim as maiores atrações da obra.
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