por Marcelo Seabra
Tendo uma criança na família, aproveite para convidá-la ao cinema e assista a Turma da Mônica: Laços (2019). Não tendo uma criança como desculpa, vá assim mesmo e confira, sem vergonha, a primeira adaptação em live action da turminha. Com um elenco jovem afiado, a produção realiza o sonho de muitos adultos, dando vida a personagens publicados há 60 anos. Por isso, é óbvio que não teremos apenas crianças nas plateias. E haverá um interessante equilíbrio entre risos e lágrimas.
Em setembro de 2009, foram comemorados os 50 anos de carreira de Mauricio de Sousa, criador da Turma da Mônica – inspirada na própria filha do cartunista. No meio dessa festa, foi lançado o álbum MSP 50 – Mauricio de Sousa Por 50 Artistas, reunião de 50 quadrinistas brasileiros que criaram releituras dos personagens. Esse álbum deu tão certo que, além de originar outros dois, levou a uma série de graphic novels, aquelas revistas maiores, de edições melhores e histórias mais longas. Dessas, a segunda foi Laços, criada pelos irmãos Lu Cafaggi e Vitor Cafaggi.
Além de prêmios – como o HQMix – e duas continuações, Laços ganhou a distinção de ser a primeira história da Turma da Mônica a chegar aos cinemas com atores. O editor indicado ao Oscar Daniel Rezende (por Cidade de Deus, 2002) assumiu a direção, função que desempenhou no ótimo Bingo: O Rei das Manhãs (2017). E o roteiro ficou a cargo de Thiago Dottori (de Os 3, 2011), que tinha a difícil tarefa de fazer crível a amizade daquelas quatro crianças, além de transpor para as telas algo que sempre funcionou muito bem no papel.
Cebolinha e Mônica disputam o papel de protagonista nessa história, com Cascão e Magali dando suporte. Teoricamente, a turma é dela, mas é o sumiço do cachorro dele que dá o pontapé inicial. Os quatro amigos se juntam e saem à procura de Floquinho. A graphic novel reúne muito bem as características principais dessas décadas de aventuras, e é exatamente nas liberdades que toma que o filme peca. Situações como uma participação bem deslocada do Louco (Rodrigo Santoro, de Ben-Hur, 2016), uma troca de olhares insinuante entre os dois principais e uns risos exagerados do quarteto causam certo estranhamento.
Apesar de qualquer possível falha, o roteiro envolve o público na busca e nos vemos torcendo por aquelas crianças, prestando atenção em cada detalhe. Os quatro atores escolhidos, Giulia Benitte, Kevin Vechiatto, Laura Rauseo e Gabriel Moreira, demonstram não só muito carisma, mas uma química gigantesca entre eles, sinal de uma preparação de elenco eficiente. As ações e reações deles são típicas de crianças e as que estavam assistindo se divertiram horrores, com risadas altas.
Muitas características de Laços não serão percebidas pelo público mais novo. Mas os maiores conseguem perceber uma agilidade na edição, alguns enquadramentos que dizem muito sem precisar de falas, uma trilha sonora eficiente que ajuda a montar a ambientação necessária. O clima atemporal remete diretamente às revistinhas, fazendo com que o bairro do Limoeiro esteja em uma localidade e época impossíveis de serem decifradas. Na caracterização, mudanças foram feitas, claro, mas o espírito, mantido, o que permite a rápida identificação de outros personagens daquele universo – como Titi, Aninha, Jeremias, Xaveco etc.
A exemplo de Stan Lee, nos filmes da Marvel, Mauricio de Sousa faz uma rápida participação na tela, assim como os irmãos Cafaggi. Como os dois também assinam Lições e Lembranças, é fácil apostar em uma sequência para Laços – ou até em uma trilogia. Mauricio e seus milhares de colaboradores, em todas essas décadas, têm diversas histórias para contar. O que não falta é material para mais aventuras dessa turminha nos cinemas.
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