por Kael Ladislau
Adaptar histórias em quadrinhos para o cinema não é coisa nova. Na verdade, é uma prática que se inicia junto do século XX, quando a sétima arte ainda engatinhava, mas já levava o personagem Krazy Kat, de George Herriman, dos jornais para a telona. Hoje dominado pela DC e Marvel, o segmento das HQs no Cinema está cada vez mais seguro e ganhando mais e mais adeptos.
Mas a chamada “nona arte” não tem apenas suas representações pelas gigantes americanas e não conta apenas histórias de ficção-científica. Sua trajetória ao longo da história também perpassa pelo velho oeste americano, contadas por italianos. Sim, o Western Spaghetti também tem seu representante no cinema – e nos quadrinhos. Estamos falando de Tex Willer.
Tex é um personagem de HQ criado em 1948 pelos italianos Gian Luigi Bonelli e Aurelio Gallepinni. O fascínio dos europeus pelo gênero puramente americano não era novidade e ele já vinha de décadas. Não diminuiu quando a ditadura fascista boicotava tudo quanto era produto importado. Inclusive os filmes. Foi aí que começou a crescer a produção de faroestes, que contavam histórias passadas nos EUA, mas tudo gravado na Europa. Esse vislumbre também era visto fora dos cinemas, em jornais que publicavam histórias de personagens que se aventuravam pelo Novo México, Arizona, Texas…
É nesse contexto que surge Tex Willer, que teve uma meteórica ascensão e passou pela década de 50 firme e forte e chegou na década de 60 como o principal nome das HQs italianas (os Fumettis). Ele fez com que Bonelli se tornasse uma espécie de Stan Lee macarrônico, criando mais e mais personagens, sempre com Tex de carro-chefe de sua editora. Dado o sucesso do personagem e os faroestes em pleno vapor, é claro que a ideia de levar o mocinho para as telonas surgiu, mas sempre foi postergada. Foi só na década de 80 que finalmente Tex teve suas aventuras contadas nas salas de Cinema, mas…
A década de 80 já não via mais no faroeste o seu maior expoente audiovisual. Na verdade, a ficção-científica ganhava as bilheterias mundo à fora desde o final da década de 60, com Star Wars e 2001, de Kubrick. Se a gente segmentar mais, os faroestes à italiana já não tinham fôlego nenhum: os filmes de Sérgio Leone, maior representante desse subgênero, foram os mais bem recebidos pelo público mundial, isso também em 60 e só. Fora ele, foram poucos cineastas italianos devidamente reconhecidos fora da velha bota ou mesmo na Europa.
Mas o nosso mocinho dos Fumettis chegou aos cinemas em 1985 com a história Tex Willer e os Senhores do Abismo (Tex e il Signore Degli Abissi). Tex é apresentado de forma fiel a seu cânone: um ranger do Texas – uma espécie de polícia da fronteira – que também é chefe indígena da tribo Navajo, posto herdado de seu sogro falecido e devido ao tremendo respeito que os nativos têm pelo branco. No Cinema e nas HQs, Tex é acompanhado por Kit Carson, outro ranger, e seu fiel parceiro Jack Tigre, um navajo que cavalga ao lado do nosso mocinho. Nas HQs, ainda existe Kit Willer, mas ele não aparece no filme.
Tex é chamado pelo comando dos rangers para desvendar o sumiço de um carregamento de armas militares em pleno deserto. Tex, Carson e Tigre vão investigar esse desaparecimento e descobrem que ele faz parte dos planos de uma espécie de revolta por parte de índios que vivem no México, liderados por uma divindade que se utiliza de pedras vulcânicas para matar seus inimigos.
A história que o filme apresenta é adaptada de uma das inúmeras histórias que Tex vive ao longo desses pouco mais de 70 anos de vida editorial. Mas está longe de ser a melhor ou a mais ideal para ir às telas. A pegada um pouco fantástica não caiu no gosto nem dos fãs, nem do público que não conhecia o personagem e nem mesmo de seus criadores, que detestaram o resultado.
Assinado por Duccio Tessari, que assina a direção de clássicos do bangue bangue italiano como Uma Pistola para Ringo, de 1965, o filme é mal dirigido e tem efeitos pobres. Infelizmente, ele não representa a força que Tex tem na Itália e no Brasil – onde é publicado há quase 50 anos ininterruptamente. Os pontos fortes do filme existem e um deles está no nome de Giuliano Gemma (de O Dólar Furado, 1965 – acima), talvez o maior ator italiano do faroeste. O galã vive o protagonista e sua caracterização é bem satisfatória, tendo o apreço de fãs até hoje.
O elenco ainda tem nomes como William Berger, que interpreta o rabugento, mas divertido, Kit Carson. A maneira como Berger atua, fazendo as caretas e as piadinhas típicas do personagem boneliano é outra atração que caiu nas graças dos fãs. As atuações em si são pontos fortes sobretudo por conta de Gemma e Berger. Mas as locações também merecem menção e os devidos créditos. Os italianos sempre fizeram questão de caprichar nos espaços utilizados e que remetem bem ao Velho Oeste Americano. Ainda, elas lembram bem os cenários vistos no papel em traços como os de Galeppinni, Giovani Ticci, Guglielmo Lettèri, entre outros.
Infelizmente, Tex Willer e os Senhores do Abismo sofreu com a demora em ser realizado, a escolha da história e o pouco caso de seus idealizadores. Mas o ícone Tex Willer vive forte nas bancas da Itália, Brasil e Portugal – por exemplo – e tem ganhado muito público, outrora chamado de velho. Com a “redescoberta” do gênero no Cinema – com novos clássicos como Django Livre (Django Unchained, 2012), Os 8 Odiados (The Hateful Eight, 2015), ambos de Quentin Tarantino, e Bravura Indômita (True Grit, 2010) e o recente A Balada de Buster Scruggs (The Ballad of Buster Scruggs, 2018), dos irmãos Coen, para citar os mais famosos – sopra um fio de esperança no fã de Tex para ver seu herói novamente no Cinema. Quem sabe surfando na onda do sucesso da Marvel? Dessa vez, a época é a ideal.
Curti demais estes gibis, tarzan, Jonah Hex, Tex , Fantasma, Mandrake era a nossa alegria, nos finais de mês.
Sou fã incondicional assim como meu pai (falecido) desse personagem. Tivemos juntos quase toda coleção em HQs e desfizemos por motivo de a mesma revista não continuar a publicação. Se por acaso souber onde posso encontrar os fascículos da mesma gostaria de saber onde conseguir.
Olá Roberto! Também sou um grande fã de Tex, desde meus 8 anos (hoje estou com 31). Também já tive uma coleção desfeita – sem meu consentimento – e hoje tenho alguns bons números. Respondendo seu comentário:
1/ Tex jamais deixou de ser publicado no Brasil, desde 1971, quando saiu o número 1 da atual edição mensal. Houve uma época, em meados dos anos 5o, que Tex fora publicado no Brasil, porém com uma revista com outro nome, chamado Texas Kid. Essa publicação sim foi interrompida e jamais voltou a ser publicada com esse nome.
2/ Tex hoje possui um leque imenso de publicações pela editora Mythos. São revistas mensais, bimestrais, trimestrais, semestrais e anuais. Havia uma quinzenal, mas mudaram sua periodicidade para mensal. Você encontra Tex nas Bancas e livrarias, sem falar da loja online da editora (https://www.lojamythos.com.br/hq.php).
Abraço!