Capitã Marvel é a primeira protagonista do estúdio

por Marcelo Seabra

“Lute como uma garota”. Essa é a mensagem que Capitã Marvel (Captain Marvel, 2019) parece querer passar. Consertando uma falha do Universo Cinematográfico da Marvel, o filme traz uma heroína como protagonista e aproveita para dar força às mulheres em diversos momentos. Todas as características que aprendemos a esperar desse filão estão lá, as boas e as ruins. Alguns buracos foram preenchidos, pontas amarradas e brechas para sequências foram deixadas.

Não sendo um profundo conhecedor da personagem nos quadrinhos, não tenho como apontar as alterações que ela sofreu. Mas é seguro afirmar que elas existem e são necessárias. E isso já causou um levante de fãs mais radicais, que não se sensibilizam com questões de direitos humanos, por exemplo, mas gritam a plenos pulmões quando o Cinema mexe em seus cânones sagrados. Não foi a primeira vez, não será a última. Nem uma bela homenagem ao saudoso Stan Lee amolece esses corações.

Estreando nos estúdios Marvel, a vencedora do Oscar Brie Larson (por O Quarto de Jack, 2015) vive a personagem do título. O começo do filme é um tanto confuso, misturando linhas temporais e cenários. Isso é compreensível, dado o estado de confusão mental da própria Vers, como a chamam. Tomamos conhecimento de uma rixa entre raças alienígenas e ela está bem no meio, sendo uma peça importante para uma possível vitória. O que complica é o fato de Vers não ter memória de nada anterior a seu resgate, após um acidente.

A partir daí, o roteiro escrito a seis mãos – incluindo os diretores, os parceiros habituais Anna Boden e Ryan Fleck (de Parceiros de Jogo, 2015) – se desenvolve e se encaixa no universo que já conhecemos. Um dos personagens principais, inclusive, é ninguém menos que Nick Fury, na pele de um Samuel L. Jackson rejuvenescido. Os demais filmes não chegam a fazer falta, mas há várias referências. E, falando em referências, é muito clara uma a Indiana Jones. E, como acontece com os Guardiões da Galáxia, a trilha sonora tem grande importância. A diferença é que, ao invés de clássicos sessentistas, temos grandes sucessos dos anos 90, que ajudam a situar a aventura em 1995.

Além das músicas, há vários elementos que reforçam a época. O uso de computadores e internet, por exemplo, gera várias piadas – e foi possível ouvir na sessão uma pessoa dizendo a outra: “Era assim mesmo”, e cair na risada. O humor segue exatamente a linha que conhecemos, com momentos mais inspirados, outros nem tanto. Manter as características que a Marvel já consolidou no Cinema é uma certeza de sucesso. Mas também é uma repetição de uma fórmula que, para muitos, se desgastou. Ou nunca foi exatamente satisfatória.

Outra certeza que temos é dos nomes interessantes no elenco. Além da premiada Larson, são introduzidos Jude Law (de Os Crimes de Gridelwald, 2018), Annette Bening (de Ruby Sparks, 2012), Djimon Hounsou (de Aquaman, 2018) e Ben Mendelsohn (de Jogador Nº 1, 2018), para ficar nos mais famosos. Tudo funciona bem, das atuações aos efeitos. Em certos momentos, o roteiro cai numa mesmice, para logo depois voltar a entusiasmar. E surgem umas tiradas fantásticas, como classificar Fury, um “humano macho”, como de pouco ou nenhum risco. É, de fato, um filme para mulheres, mas que pode também agradar a homens. Basta não ser um chato.

Mendelsohn é o líder dos Skrulls

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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