Spielberg volta à boa forma com Jogador Nº 1

por Marcelo Seabra

Passando alguns anos trabalhando em dramas, alguns inclusive que pouca gente viu, Steven Spielberg volta ao que sabe fazer melhor: blockbusters divertidos e com conteúdo. Por mais que a aventura seja o foco, Jogador Nº 1 (Ready Player One, 2018) trata de algumas questões mais profundas, como amor, amizade e a possibilidade de uma segunda chance. E o faz misturando com uma grande homenagem à cultura pop dos anos 80.

Logo de cara, temos Van Halen estourando as caixas de som IMAX. O sucesso Jump estabelece o clima do longa, todo baseado na década em que o inventor James Halliday (Mark Rylance, de Ponte dos Espiões, 2015) cresceu. Ele criou o OASIS, um jogo de realidade virtual aonde todos vão para fugir da dura realidade. O ano é 2045, as pessoas vivem em pilhas de caixotes de metal e têm subempregos, quando têm. O OASIS, além de escape, é fonte de renda para outros, e praticamente todo mundo tem um avatar lá.

Nosso herói, Wade Watts (Tye Sheridan, o jovem Cíclope dos X-Men), é um dos milhões que buscam os segredos (ou easter eggs) que Halliday escondeu no jogo antes de morrer. Quem encontrar os três se torna proprietário desse universo, com os trilhões de dólares que vêm junto. Diversos personagens notórios, do Cinema, Literatura e principalmente videogames, trafegam pelas ruas do OASIS. Numa batalha, é possível ver Freddy Krueger e Jason Voorhees de relance. Alguns fazem pontas, outros têm mais destaque. Um certo brinquedo assassino, por exemplo, tem aqui sua melhor participação, de toda a sua carreira cinematográfica.

Watts, que atende por Parzival (que poderia ser traduzido simplesmente Percival, como é conhecido aqui o cavaleiro da Távola Redonda) se recusa a se unir a grupos, prática comum no jogo, mas tem uns amigos que acabam valendo como um. A situação acaba se polarizando entre o protagonista e amigos e a poderosa empresa IOI, liderada pelo calculista Nolan Sorrento (Ben Mendelsohn, de O Destino de Uma Nação, 2017).

Entre as muitas homenagens, cada perfil de espectador vai reconhecer e vibrar com aquelas que conhece, já que é praticamente impossível pegar todas. O escritor Ernest Cline (também roteirista do filme, ao lado de Zak Penn) criou um universo muito rico no livro que lançou em 2011 – e que logo bateu recordes de vendagem. Algumas dessas citações são mais importantes para a trama e, por isso, mais óbvias. O Gigante de Ferro, por exemplo, deve arrancar algumas lágrimas de quem foi marcado pelo longa de 1999. A sequência inspirada por um clássico de Stephen King é perfeita!

Com visuais fantásticos, Spielberg ainda nos lembra que foi ele quem criou Jurassic Park (1993), trazendo de volta o poderoso T-Rex, numa dobradinha curiosa com King Kong. Os efeitos, visuais e sonoros, são potencializados pelos recursos IMAX, criados exatamente para esse tipo de filme. O mestre Alan Silvestri responde pela trilha (e logo poderá ser ouvido novamente, em Guerra Infinita), conseguindo variar de acordo com a referência que estiver sendo usada no momento – inclusive emulando trilhas famosas, quando necessário.

Se o público mais jovem deve se ligar mais a todos esses recursos, para os adultos (principalmente aqueles nascidos na década de 80) ficam outros detalhes e as lições, que não podem faltar num filme do diretor. Ao contrário do usual, Spielberg consegue se controlar, segurando a sacarose num nível bem aceitável. Rylance mais uma vez faz um trabalho lindo, em sua terceira parceria com o cineasta, e Sheridan reafirma ter carisma suficiente para segurar as pontas. Os demais nomes do elenco só ajudam a abrilhantar mais Jogador Nº 1, desde já uma das melhores aventuras do ano.

De Volta para o Futuro é uma das muitas referências no filme

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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