por Marcelo Seabra
Dos filmes que chegaram ao país em 2018, cabe aqui comentar alguns que me passaram batido no lançamento. Confira o pacotão da repescagem 2018.
Marjorie Prime (2017): drama de ficção-científica discreto, sensível, que levanta questões de vida e morte. A adaptação da peça de Jordan Harrison nos apresenta a um conceito interessante: uma empresa fornece serviços de holograma para que pessoas aceitem melhor a partida de entes queridos. É como se o falecido ainda estivesse ali, e a idosa Marjorie (Lois Smith) continua em contato com o marido, Walter, mas em uma versão mais jovem dele (vivido por Jon Hamm). O recurso permite esmiuçar as relações familiares, trabalhar traumas passados e ainda dá oportunidade para ótimas interpretações de Geena Davis e Tim Robbins, além de Smith e Hamm.
Bird Box (2018): muito comentada produção da Netflix, traz um conceito quase original de terror que consegue sim criar uma boa atmosfera de tensão, mas não se desenvolve totalmente e leva a um final imprevisível de tão bobo. Duas boas atuações são garantidas, de Sandra Bullock e Trevante Rhodes, além de ótimas participações de Sarah Paulson e John Malkovich. O autor do livro adaptado, Josh Malerman, bebeu em várias fontes e teve certa dificuldade para amarrar, o que fica ainda pior ao ser transposto para as telas, virando uma mistura de Um Lugar Silencioso e Fim dos Tempos.
Você Nunca Esteve Realmente Aqui (You Were Never Really Here, 2017): longa pesado, enxuto e violento de Lynne Ramsay – que já havia nos dado Precisamos Falar Sobre Kevin, entre outros. Joaquin Phoenix está ótimo na pele de um veterano de guerra caladão e aparentemente traumatizado que pega trabalhos como mercenário. O conhecemos quando ele é incumbido de resgatar a filha de um político importante e as consequências dessa missão vão chacoalhar o sujeito. Você nunca vai olhar para um martelo da mesma forma novamente.
Springsteen on Broadway (2018): o premiado Bruce Springsteen nos leva a uma retrospectiva de sua carreira, passando por versões acústicas de suas músicas mais famosas enquanto conta histórias de sua vida e até da concepção das canções. Suas reflexões são sinceras e interessantes e nos dão uma amostra de como funciona seu processo criativo, com ideias pulando da relação com o pai e até com a sua cidade natal. Ele, inclusive, esclarece que não teve todas as experiências sobre as quais escreve, como trabalhar em fábricas, mas não é nada difícil de imaginar para quem tem um histórico como o dele. O show, filmado em um teatro na Broadway para menos de mil pessoas, é bem intimista, e o diretor Thom Zimny faz boas opções de cortes e enquadramentos, que nos levam praticamente para dentro do espetáculo.
Podres de Ricos (Crazy Rich Asians, 2018): comédia leve de costumes contrasta os estilos de vida nos Estados Unidos e de Singapura quando um casal viaja de um país para o outro para um casamento. Rachel (Constance Wu) descobre, ao chegar, que seu namorado (Henry Golding) é o solteiro mais cobiçado da região, herdeiro de uma das famílias mais ricas e tradicionais de lá. E, exatamente por isso, não vai ser fácil lidar com a sogra (Michelle Yeoh). Festas milionárias, em ilhas paradisíacas, onde só se chega de helicóptero, são comuns nesse meio, e é dessas situações que surge a graça do filme, além da boa química entre os protagonistas e uma trilha sonora descolada.