por Marcelo Seabra
Por mais que tentemos não criar expectativas sobre novos filmes, basta um trailer, ou uma campanha de marketing mais insistente, para surgir aquela ansiedade. Se o filme é bom, todos ficam satisfeitos e o problema está resolvido. Mas, se o filme não é bom, é aquela decepção – caso de A Freira, aguardado ansiosamente por fãs de terror! Não necessariamente o pior do ano, mas um golpe nos espectadores.
Outros projetos parecem ser desenvolvidos na surdina, sem elementos que chamem muito a atenção. Ou, às vezes, são baseados em material não muito querido, do qual se espera pouco. E eles chegam arrebentando, crescendo na propaganda boca a boca e viram inesperados sucessos na temporada.
Abaixo, como é tradição no Pipoqueiro desde 2013, seguem as cinco maiores surpresas e decepções de 2018, em ordem de lançamento e com uma rápida explicação do porquê de estarem na lista. Para a crítica completa, clique no título.
Surpresas de 2018
Mudbound – Drama pesado, sobre as relações entre duas famílias no sul racista dos Estados Unidos, tem um elenco afiado, uma ótima trilha sonora e uma fotografia excepcional. Dee Rees, que costurou todas essas qualidades, merecia maior reconhecimento, assim como o filme, que não foi tão comentado quanto deveria.
Pantera Negra – Unindo ótima bilheteria e elogios da crítica, um personagem de quinta classe do Universo Marvel conseguiu superar os colegas mais famosos e ainda levantar a bola da luta por diversidade no Cinema, com elenco predominantemente negro e muitas mulheres fortes. Já era esperado que Pantera Negra tivesse sucesso, mas o resultado superou expectativas.
Hereditário – Uma família nos é apresentada, nos afeiçoamos a eles e logo coisas estranhas começam a acontecer. Um dos destaques do ano, o longa tem um ótimo elenco e uma história que não se importa em chutar convenções e enlouquecer, montando na hora as regras daquele universo e evitando sustos gratuitos, com um clima de terror que poucos conseguiram atingir.
Buscando… – Mostrando o que pode vir de ruim das interações pela internet, Buscando… materializa os medos de um pai quando uma garota desaparece. Totalmente montado através de telas, seja de notebook ou celular, a edição é ágil e os recursos tecnológicos não distraem, mas ajudam na construção da obra.
Operação Overlord – Com um realismo muito interessante, simulando até a tensão dos soldados antes de um salto de um avião, o longa rapidamente monta o quadro que teremos entrar no mundo do terror e das supostas experiências que os nazistas faziam com prisioneiros. Com um pé na realidade e outro na loucura, Overlord diverte e assusta, com personagens carismáticos e igualmente importantes para a trama.
Decepções de 2018
Projeto Flórida – Uma crítica social interessante e importante se perde em um longa cansativo e sem propósito. Crianças de muito talento vivem uns pestinhas mal criados que passam seu tempo causando problemas para os adultos, levando a um final impactante, para quem insistiu e perseverou até chegar a ele.
Aniquilação – Um filme de Alex Garland, seguindo o lindo Ex-Machina (2014), com Natalie Portman, baseado num best-seller de ficção-científica, não precisou fazer esforço para criar expectativa no público. Se as coisas começam promissoras, criando uma ótima atmosfera de tensão, logo caem num lugar-comum de terror sem lógica, dando a impressão de que a pretensão de Garland o tirou dos trilhos.
Oito Mulheres e Um Segredo – Um elenco feminino inimaginável não consegue melhorar um roteiro medíocre, cheio de clichês e piadas fracas, além de referências cansativas à trilogia de Danny Ocean – como se isso apenas pudesse salvar o longa. A necessidade de ser cool soa forçada, o que torna uma opção bem mais interessante buscar os originais, seja com Clooney ou com Sinatra.
A Outra Mulher – Uma comédia com cara de teatro com três dos grandes nomes do Cinema francês, um deles também na direção, deveria ter dado um resultado bem superior. O roteiro se perde em devaneios longos e de tom equivocado, tornando uma sessão de 80 minutos algo próximo de tortura. Se os personagens fossem menos babacas, talvez a história ficasse mais digerível.
A Freira – Derivada de um universo interessante e bem estabelecido, a freira poderia ter sido um personagem bem mais assustador. Mas a necessidade de buscar clichês e sustos fáceis foi maior e o produtor James Wan não conseguiu manter o padrão – que já havia variado, mas não tanto quanto aqui. A total falta de tensão ou apreensão garante o fracasso do projeto.
Menção (des)honrosa:
Bohemian Rhapsody – por um lado, o longa é ótimo ao passar por vários episódios marcantes da história de uma das melhores bandas de todos os tempos. Interpretações, figurino e trilha sonora são alguns dos elementos que ganham o público de cara, mostrando que o jogo estava ganho de início.
Por outro lado, a bagunça cronológica desnecessária tira do filme o público que tem uma mínima noção da história do Queen. Vários momentos são forjados e o resultado é uma bagunça, soa forçado e apelativo – talvez devido à mão forte dos produtores Brian May e Roger Taylor, que contaram a história como quiseram, e não como aconteceu.
Resultado: entre pontos positivos e negativos, a produção é ruim e divertida ao mesmo tempo, uma surpresa e uma decepção.
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