por Marcelo Seabra
É bem comum que as pessoas saibam o nome do primeiro homem a pisar na Lua. Mas as circunstâncias que o levaram a isso não são tão conhecidas. Quem era Neil Armstrong? Por que ele foi o primeiro? Por que o projeto Apollo depositou tanta confiança nele? Isso é o que descobrimos assistindo a O Primeiro Homem (First Man, 2018), nova parceria de dois dos responsáveis pelo premiado La La Land (2017).
O diretor e roteirista Damien Chazelle se reuniu com o ator Ryan Gosling para contar a história de Armstrong, mostrando o astronauta como alguém bem normal, como qualquer um de nós. Mais ou menos como o Rocketman de Elton John: um sujeito que tem um emprego cinco dias na semana, que cumpre sua carga horária. Só tem algo de extraordinário: ele se prepara para sair do planeta. E não faltam riscos.
Como o forte do filme é humanizar o herói, sua família tem papel importante, e sua esposa é essencial. Claire Foy, mais lembrada como a Elizabeth II de The Crown, faz um ótimo trabalho, mas o roteiro não lhe reserva uma importância do tamanho de seu talento. Quando outros astronautas se ferem ou morrem em missões malsucedidas, há uma esposa em casa, sofrendo à espera de um sinal do marido, e Janet Armstrong acompanha o drama das amigas com o receio de um dia chegar a sua vez.
Tecnicamente, O Primeiro Homem é perfeito. Não deve ter competição à altura nas categorias técnicas do Oscar, como design de som. A claridade na tela cansa, com momentos em que é preciso fechar os olhos, mas o realismo impressiona. Nas cenas em que os astronautas estão na nave, sentimos junto com eles a apreensão. Afinal, qualquer coisa que dê errado pode colocar fim naquelas três vidas. E é interessante saber como a NASA chegou aos três.
O roteiro, baseado no livro de James R. Hansen, é assinado pelo oscarizado Josh Singer (de Spotlight, 2015). Por focar muito em Armstrong, ele deixa claro fatos a respeito do astronauta, como seus dias como engenheiro e a sua chegada na agência espacial. Mas acaba passando por cima de outras informações, que ficam faltando. Michael Collins (Lukas Haas, de O Regresso, 2015), por exemplo, parece surgir do nada, ao contrário de Buzz Aldrin (Corey Stoll, o vilão de Homem-Formiga, 2015), mostrado como um chato desde sempre.
A interpretação de Gosling, que não é lembrado por sua riqueza de emoções, torna o personagem um tanto frio, e esse sentimento acaba perpassando por toda a película. É difícil para o espectador se conectar, se importar genuinamente. É mais fácil se afeiçoar a Janet, devido ao trabalho de Foy. Com todas as qualidades mencionadas, O Primeiro Homem acaba sendo prejudicado por essa frieza, e fica até cansativo em certas passagens.