por Marcelo Seabra
Lá se vão 40 anos do novo clássico Halloween (1978), pai dos slasher movies que fez uma fortuna nas bilheterias e compreensivelmente fundou uma franquia, além de originar diversos curtas baseados nos personagens. John Carpenter dirigiu, produziu e escreveu o longa, além de compor várias músicas para a trilha. Algumas delas podem ser ouvidas em Halloween (2018), novo capítulo da série que curiosamente opta por desconsiderar todos os outros para ser a continuação direta do primeiro.
Não deve ter sido difícil tomar a decisão de esquecer as sete sequências e os dois de Rob Zombie, que recontam tudo. Carpenter escreveu o segundo e produziu o terceiro, que nem envolve o assassino Michael Myers – e que ganha uma menção neste novo através das máscaras da morte. Agora, ele ganha crédito como produtor e compositor, além de ser o criador dos personagens. Mas temos uma história 100% nova, respeitando o clima do primeiro. E com a mesma máscara.
No filme de 78 (acima), o pequeno Michael, de seis anos, mata a facadas a própria irmã adolescente e é internado. Quinze anos depois, antes de uma audiência, ele consegue fugir e seu psiquiatra sai em seu encalço. O psicopata volta à sua pequena Haddonfield e, por algum motivo, inventa de perseguir Laurie Strode, outra adolescente que trabalha como babá – o que parece se tornar a obsessão do sujeito. O final mostra o Dr. Loomis alvejando Michael e salvando Laurie, mas o corpo desaparece. No segundo filme, descobrimos que Laurie é irmã de Michael, daí a obsessão, mas isso é descartado.
De alguma forma, 40 anos depois, Michael reaparece em um hospício, onde passou todo esse tempo em silêncio e aparentemente catatônico. Misteriosamente, ele está em forma e é assustadoramente forte. Mas esse é apenas um dos mistérios que logo aprendemos a relevar. Um aluno do falecido Dr. Loomis, o Dr. Sartain (Haluk Bilginer, de Shelter, 2017), é agora o guardião de Michael e vai acompanhá-lo numa transferência de clínicas. No outro extremo, temos a incansável Laurie Strode esperando a volta de seu algoz.
O grande chamariz desse Halloween é trazer de volta Jamie Lee Curtis (acima), a grande rainha do terror norte-americano. É verdade que isso já tinha acontecido em Halloween H20 (1998), além de uma ponta no seguinte, o horroroso Halloween: Ressurreição (2002), mas nenhum dos dois teve sucesso em levantar a bola da franquia. David Gordon Green, diretor cujos últimos cinco filmes foram solenemente ignorados por crítica e público, entrou a bordo. Ele é mais lembrado pela comédia escrachada Segurando as Pontas (2008) e pelo drama familiar Contra Corrente (2004).
Além do diretor, outra surpresa é ter o comediante Danny McBride entre os roteiristas. Ele e Gordon Green são parceiros de longa data e trouxeram ainda o colaborador Jeff Fradley para escrever – os três estiveram juntos recentemente na série da HBO Vice Principals. E o trio consegue algo que parecia impossível: homenagear o original e conseguir seguir adiante ao mesmo tempo. Fãs do trabalho de Carpenter vão se deliciar com as várias referências, começando pelo letreiro de início. Mesmo marcada pelos assassinatos, Haddonfield continua aquela cidade pacata de interior, onde todos deixam portas e janelas abertas, e a fotografia de Michael Simmonds (de Nerve, 2016) quase nos leva de volta a 1978, com poucas alterações trazidas pela modernidade. Nick Castle, que deu vida à “Forma” (como Michael é citado) em 78, está de volta, além de outras participações especiais, como PJ Soles.
As inconsistências desse tipo de filme estão presentes. Primeiro, é complicado aceitar que Michael, um ser humano fisicamente normal, tenha tanta tolerância para dor. Ele toma um tiro e continua em frente. Segundo, temos algumas decisões burras sendo tomadas, como sair correndo quando se tem um revólver em punho, apenas para atender o roteiro. A lista poderia continuar, mas felizmente nada disso atrapalha a experiência de quem tem o clássico guardado com carinho na lembrança. Não significa dizer muito, mas essa conseguiu ser a melhor sequência do original.