Grandes nomes não salvam comédia francesa

por Marcelo Seabra

Uma comédia francesa atualmente em cartaz é dirigida e protagonizada por um dos maiores artistas do Cinema desse país, Daniel Auteuil. No elenco, outros grandes nomes, além de contar com roteiro do premiado escritor Florian Zeller, que se baseou em sua própria peça. Infelizmente, ter gente boa a bordo não garante a qualidade do projeto. A Outra Mulher (Amoureux de ma Femme, 2018) não consegue ter graça, fazendo os envolvidos passarem vergonha para se resumir a dar uma mensagem moralista.

Para começo de conversa, o roteiro se perde em devaneios longos e equivocados que não demoram a ficar cansativos, fazendo o longa parecer ter muito mais que seus 80 e poucos minutos de projeção. O personagem principal consegue ser mais chato que Walter Mitty, aquele da vida secreta, e poderia ser descrito como uma versão mais velha e excitada dele. Ele passa todo o tempo se constrangendo enquanto baba em uma mulher bonita. As gags geradas nesses momentos são exageradas e passam longe de qualquer tipo de humor.

No início do filme, acompanhamos um encontro acidental. Daniel (Auteuil, dos ótimos O Closet e O Adversário) é um agente literário bem casado que foi pego de surpresa pela notícia de que um casal amigo ia se separar. Patrick (Gérard Depardieu, outro gigante, inclusive literalmente), o recém-divorciado, parece bem e está namorando uma mulher com a metade de sua idade. Os dois trombam na rua e marcam um jantar, para colocarem a conversa em dia e para que Patrick possa apresentar a nova musa.

No momento em que o jantar começa e Emma (Adriana Ugarte, a jovem Julieta de Almodóvar) é introduzida, a esperança de algo que preste vai para o espaço. O festival de palhaçadas e delírios de Daniel tem início, e a única pessoa que parece incomodada é a esposa dele, Isabelle (Sandrine Kiberlain, de A Viagem de Meu Pai, 2015), que dá alguns chiliques na sala ao lado e ninguém ouve nada. Entre a sala e a cozinha, acompanhamos as fantasias do sujeito com a namorada do melhor amigo. Ele se comporta como um adolescente cheio de hormônios que não sabe o que fazer com eles. E sem escrúpulos, claro.

Trata-se do quarto filme comandado por Auteuil, e é de longe o mais fraco. Como ator, ele tem mais de cem projetos, além de uma pancada de prêmios e indicações. Ele inclusive tem várias colaborações com alguns dos envolvidos, como Depardieu. Talvez, no papel, A Outra Mulher parecia ser melhor. Difícil entender como tanta gente boa de serviço entrou num barco tão sem rumo. O pior é que muita gente, vendo nomes tão competentes, será enganada, perdendo a oportunidade de ver coisa melhor. Ou de apenas ficar em casa.

Esse é o tipo de expressão que temos que aguentar por 80 minutos

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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