por Marcelo Seabra
Em dezembro de 2016, a revista Vanity Fair publicou um artigo escrito por ninguém menos que William Friedkin, o diretor do já clássico O Exorcista (The Exorcist, 1973). No texto, o cineasta descreve como foi o seu encontro com um verdadeiro padre exorcista e como foi testemunhar uma sessão real de exorcismo. No ano seguinte, Friedkin levou a experiência ao Cinema, usando as filmagens que realizou para costurar o documentário The Devil and Father Amorth (2017), disponível na Netflix.
Em 1973, o longa de ficção assinado por Friedkin aterrorizou plateias do mundo ao mostrar de forma realista o processo de possessão demoníaca e subsequente exorcismo de uma menina norte-americana. William Peter Blatty, autor do livro e do roteiro do longa, se baseou em um caso antigo cujos fatos ele conseguiu escavar e seguir. A pedido da família da criança, ele desistiu de escrever um relato fidedigno e acabou passando à ficção, alterando dados e romantizando a história.
Ao ler a autobiografia do Padre Gabriele Amorth, Friedkin ficou sabendo que o “Exorcista do Vaticano” gostava muito do filme dele, “apesar de ter efeitos visuais exagerados”, como cita. Desde os anos 70, o diretor, que nunca havia testemunhado um exorcismo e era obcecado por isso, buscava ter essa experiência, e isso foi possível em abril de 2016. Todo o desenrolar é narrado no artigo que, como um livro, torna o relato bem assustador. No documentário, é possível ver as situações narradas, sem pseudônimos ou sutilezas. Tira um pouco do terror, mas traz realidade.
A curta duração proporciona uma sessão rápida e objetiva, sem floreios ou gorduras. Alguns efeitos sonoros são dispensáveis, é preciso dizer, mas não chegam a estragar a produção. Friedkin aparece na tela, explicando alguns pontos, e se mostra um bom apresentador. O caso real que inspirou Blatty também é levantado, com nomes e lugares revelados. Algumas curiosidades sobre O Exorcista são retomadas e há homenagens a Blatty e Amorth, ambos falecidos antes do lançamento. Um outro autor, especializado em estudos sobre o demônio e o Mal em geral, aconselha que não se gaste muito tempo sobre o tópico, sob a pena de atrair energias ruins, ou algo assim.
É claro que as crenças de cada espectador vão influenciar suas conclusões. Friedkin, que se declara agnóstico, tenta ser imparcial, mostrando suas filmagens para padres, bispos, psiquiatras e neurocirurgiões. Os depoimentos estão no filme e, no mínimo, podem levar a discussões interessantes. O diretor não se propõe a dar conclusões sobre a fé, o Mal ou outras questões filosóficas. Ele apenas proporciona a todos que se interessarem a experiência única de acompanhar um exorcismo e tudo que o rodeia, deixando para nós aquela sementinha de dúvida: seria tudo aquilo provocado pelo cérebro humano ou há de fato espíritos malignos que podem possuir inocentes?
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