por Marcelo Seabra
Outra aventura do Homem-Formiga chega aos cinemas, e desta vez ele não ataca sozinho. No longa anterior, foram dadas várias pistas que nos levariam à Vespa, e a personagem dispensa apresentações. Como costuma acontecer na segunda parte de trilogias, quando todos já são conhecidos e a história de origem foi superada, tem-se mais espaço para a trama principal, que precisa ser bem desenvolvida para ter fôlego por toda a sessão. O resultado, como esperado, é charmoso e divertido.
Em Homem-Formiga e a Vespa (Ant-Man and the Wasp, 2018), descobrimos porque Scott Lang (Paul Rudd) ficou de fora da Guerra Infinita e os desdobramentos de suas ações na Alemanha ao lado do Capitão América e companhia, vistas em Guerra Civil. Em prisão domiciliar, vigiado pelo FBI, Lang vive de forma pacata, recebendo visitas da filha e da ex com o atual marido. E os dias se arrastam até que Hope Van Dyne (Evangeline Lilly) reaparece, requisitando ajuda para uma nova missão ao lado do pai, Hank Pym (Michael Douglas).
A grande frustração de Pym é ter perdido a esposa, Janet (Michelle Pfeiffer, de Assassinato no Expresso Oriente, 2017), no Reino Quântico, dimensão aonde Scott foi quando diminuiu ao máximo de tamanho. Surge uma possibilidade de encontrá-la, mas a tarefa não será fácil, com dois novos vilões entrando no meio. Um misterioso Fantasma (Hannah John-Kamen, de Jogador Nº 1, 2018) tem seus próprios planos e o traficante de tecnologia Burch (Walton Goggins, do novo Tomb Raider, 2018) vê nos inventos de Pym uma chance de ganhar uma bolada.
Muita gente entra na trama para que ela possa se sustentar. Além da volta de praticamente todos os personagens do primeiro filme, como Luis (Michael Peña) e sua trupe, temos as adições já citadas e ainda Laurence Fishburne (de Passageiros, 2016) como um ex-parceiro de Pym e Randall Park (o Presidente Kim de A Entrevista, 2014) vivendo o agente de FBI responsável por vigiar Lang. Park serve como alívio cômico e soa exagerado em alguns momentos, e esse é um bom resumo do filme: vários trechos engraçados, uns poucos forçados e fora do tom.
É interessante perceber que essa questão cômica é bem presente aqui, ao contrário das aventuras dos medalhões do estúdio, como Capitão América e Homem de Ferro (fora as piadinhas irritantes de Stark). O esforço para soar dramático é percebido nesses, enquanto o diretor Peyton Reed, advindo de comédias, não disfarça que prefere algo mais leve, despretensioso. Inclusive, com um bom uso de músicas pontuais. Isso leva alguns críticos a torcerem o nariz para a produção e taxá-la de menor, ou menos importante. Temos que lembrar que nem toda adaptação de quadrinhos se propõe a ser um Cavaleiro das Trevas (2008), e as próprias HQs são, em sua grande maioria, aventuras despretensiosas e divertidas.
Mais uma vez, é Rudd a grande força do longa. Seu carisma faz com que nos importemos com ele e sua família, e torcemos por ele mesmo quando faz as escolhas mais erradas. A diferença, agora, é o peso que Lilly ganha. O roteiro faz questão de reforçar que o Homem-Formiga e a Vespa têm o mesmo peso, a mesma importância. Ela tem até mais habilidade física que ele, que conta com seu jeito safo e maus hábitos de ladrão para resolver seus problemas. Ela, como o pai, tem traços de arrogância e presunção, mas é no fundo uma boa pessoa com intenções nobres.
Com cenas que fazem homenagens a filmes como Viagem Insólita (1987) e Viagem Fantástica (1966) e até a Curtindo a Vida Adoidado (1986), passando pelas perseguições de Bullitt (1968) nas ruas de São Francisco, Homem-Formiga e a Vespa não deixa de ter várias referências ao Universo Cinematográfico Marvel. Aparentemente à parte, ele acaba dando diversas pistas do que poderá acontecer no futuro, além de deixar muitas pontas soltas para uma hipotética próxima aventura e de mostrar como se situa no grande quadro. E não perca as duas cenas guardadas para o final, além da tradicional ponta de Stan Lee.
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