por Rodrigo “Piolho” Monteiro
O ser humano, direta ou indiretamente, foi responsável pelo maior número de extinções de espécies animais e vegetais de toda a história registrada apenas no século XX. Fosse pela cobiça, superstições que dizem que o órgão genital ou o pó de ossos de animais selvagens tem propriedades medicinais milagrosas ou simplesmente pela expansão urbana, o fato é que a humanidade não se furta em acabar com espécies inteiras se isso não atrapalha seu progresso. A criação de leis que protegem os direitos dos animais foi um avanço, mas, ainda assim, estamos muito longe de viver em harmonia com os demais seres vivos que nos cercam.
Essa introdução pode parecer apenas propaganda ambientalista. Na verdade, ela se justifica bastante já que a extinção de diversas espécies de animais – ou uma segunda extinção, no caso – é a principal justificativa para a movimentar a história de Jurassic World: Reino Ameaçado (Jurassic World: Fallen Kingdom, 2018), que estreia no país no dia 21, mas já tem sessões de pré-estreia pagas. E não faça questão do 3D, que não acrescenta nada.
A história se passa dois anos após os eventos mostrados em Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros (2015). Depois do desastre causado pelo indominus Rex, o parque foi fechado e a Ilha Nublar, sua sede, foi isolada, deixando que os dinossauros que a habitam ficassem por lá vivendo sossegadamente. A ilha, no entanto, tem um vulcão que está prestes a entrar em erupção. Daí se segue o debate: o governo americano deve interferir e ajudar a resgatar os dinossauros presos na ilha, levando-os a uma nova localização para que suas vidas sejam preservadas ou simplesmente deixar que sejam exterminados uma segunda vez por um outro “ato de Deus”?
Claire Dearing (Bryce Dallas Howard) é uma das pessoas que acredita que os dinossauros merecem uma terceira chance de salvação. Depois de gerenciar o parque destruído no longa anterior, ela agora comanda uma ONG que tem o objetivo de salvar os animais de uma segunda extinção. Seus esforços parecem que serão recompensados quando Eli Mills (Rafe Spall), assistente do bilionário Benjamin Lockwood (James Cromwell), lhe faz uma proposta: ela deve ir até a Ilha Nublar ajudar no resgate de algumas espécies de dinossauros antes que a ilha exploda. Para isso, no entanto, ela precisará se reconectar com Owen Grady (Chris Pratt), o especialista em comportamento de velociraptores e dinossauros em geral que trabalhava no parque. Claro que, como diz o ditado, quando as coisas parecem muito boas para serem verdadeiras é porque tem algo errado. Claire logo descobrirá que nem tudo é como ela imaginava.
Com produção de Steven Spielberg e roteiro de Colin Trevorrow (diretor do longa anterior) e Derek Connolly, Reino Ameaçado é um longa divertido que tenta tocar em uma questão importante: o desequilíbrio ambiental que ocorre quando espécies animais são extintas ou, no caso, introduzidas em um ambiente que não está preparado para recebê-las. Isso, no entanto, é algo que fica mais no segundo plano e questionado principalmente pelo doutor Ian Malcolm (Jeff Goldblum, de volta à franquia – acima). Na superfície, é um longa de ação e isso é tanto seu principal mérito quanto seu maior defeito.
O fato é que, ao chegar no quinto episódio, a franquia dos dinossauros estabeleceu alguns clichês e, infelizmente, não se cansa de repeti-los. Há diversas situações que são muito previsíveis para quem assistiu aos filmes anteriores e isso tira um pouco da diversão. É meio ruim você pensar “ih, daqui a pouco isso acontece” e, exatamente alguns minutos depois, aquilo que você previu aparecer na tela. Há ainda algumas decisões dos roteiristas que reproduzem clichês de filmes de ação em geral, como o fato de um personagem sumir sem explicações e reaparecer justamente quando é mais necessário. Por outro lado, Reino Ameaçado traz novos elementos à franquia e estabelece meios para que ela resista por mais algum tempo, já que o escopo de suas histórias recebe uma bela expansão aqui.
Com relação ao elenco, além de Bryce e Pratt, temos também B. D. Wong repetindo o papel do Dr. Henry Wu, geneticista responsável pela clonagem dos dinossauros, algo que vem fazendo desde o primeiro filme da franquia, em uma performance mais afetada do que as anteriores. Completam o elenco principal Ted Levine, Justice Smith, Daniella Pineda, Geraldine Chaplin e a novata Isabella Sermon. Todos eles fazem seu trabalho de maneira competente, ainda que o Owen de Pratt se pareça muito com uma versão alternativa do Starlord, personagem vivido por ele no Universo Marvel.
A trilha sonora ficou a cargo de Michael Giacchino e funciona muito bem no filme, sendo grandiosa onde necessário e mais discreta quando o momento exige. Já a direção de J. A. Bayona (de O Impossível, 2012) é competente e, se não reinventa a roda, sabe bem equilibrar os momentos de suspense com a ação desenfreada que marca boa parte do longa, além de tentar evitar os sustos fáceis típicos desse tipo de produção.
Jurassic World: Reino Ameaçado é meio que mais do mesmo. É um longa divertido, cheio de ação, com efeitos visuais muito bem feitos e que, apesar de trazer novos elementos, não se reinventa e usa e abusa dos clichês estabelecidas pela própria franquia desde o primeiro filme, lançado em 1993. Vai agradar os fãs e também aqueles que só querem ter uma boa diversão no cinema.
Com certeza é o pior filme de todos da franquia.