Franquia Star Wars conta a origem de Han Solo

por Marcelo Seabra

Intérprete de ao menos três personagens icônicos do Cinema e queridos do público, Harrison Ford viu seu Indiana Jones ganhar uma quarta aventura e Blade Runner ser incomodado na aposentadoria. Nos dois filmes, o ator foi acompanhado por um colega mais novo que poderia dar sequência às franquias. Dessa vez, a providência teve que ser mais drástica e foi convocada uma cara nova para Han Solo: Uma História Star Wars (Solo: A Star Wars Story, 2018), sem a participação de Ford.

A aventura solo de Han (a piadinha é inevitável!) volta a suas origens, quando vivia nas ruas de um planeta sujo e perigoso. Quando entra em conflito com os poderosos locais, ele não vê outra opção que não seja fugir, e aí se inicia a jornada rumo a se tornar o anti-herói que todos conhecemos. São mais de duas horas sem a Força, Darth Vader ou qualquer Skywalker. No papel, é uma ótima ideia, explorando outros cantos de um universo tão rico quanto o de Star Wars. Na tela, torna-se uma aventura corriqueira, que poderia ter qualquer outro personagem ali.

O clima do longa lembra bem o primeiro filme da série, Uma Nova Esperança (1977), uma espécie de faroeste do espaço. Corridas de naves, tiroteios, jogadas políticas, vilões misteriosos… Está tudo lá. Com ênfase no tudo, já que o roteiro busca abraçar um punhado de coisas, soltando várias referências a fatos já estabelecidos. Lawrence Kasdan escreve para a franquia desde O Império Contra-Ataca (1980) e, dessa vez, trouxe o filho, Jonathan Kasdan, numa parceria em que um parece fazer reverência ao cânone enquanto o outro traz ar fresco ao projeto. O diretor, Ron Howard, foi trazido às pressas e dificilmente imprime uma marca às produções que comanda.

No importante papel principal, temos Alden Ehrenreich, jovem que, entre vários papéis, chamou a atenção em Ave, César! (Hail, Caesar!, 2016). A caracterização, do figurino aos trejeitos, é construída com cuidado, tentando ao máximo emular o estilo de Ford. Ehrenreich não tem o charme que Ford exibia em 77, um misto de confiança e destemor, mas é compreensível pela imaturidade de Han. Logo, é uma atuação correta, uma espécie de preparação para o que viria. Por ser mais novo e estar em um contexto bem diferente do que conhecemos, esse Han soa genérico, como um personagem qualquer, um projeto de Flash Gordon.

Ocupando a vaga de mocinha, e uma razoavelmente bem desenvolvida, temos Emilia Clarke, a mãe dos dragões de Game of Thrones. Salvo uma coincidência impensável, daquelas preguiçosas, a relação entre eles é interessante. Qi’ra cavou seu caminho, soube fazer alianças e não teve pudores ao fazer o necessário para sair de casa. Outro que rouba a cena é Donald Glover (de Atlanta), dando vida a um jovem Lando Calrissian, personagem de Billy D. Williams na trilogia original. Lando é uma espécie de modelo que Han vai aperfeiçoar, um poço de auto-confiança que esconde truques bem sujos.

O grupo de coadjuvantes é bacana e reforça o caldo. O ponto negativo de um filme como esse é já termos uma ideia do destino de cada um, por já conhecermos o futuro desse universo. Ainda assim, é sempre bom ver Woody Harrelson (de Três Anúncios, 2017) e Thandie Newton (de Westworld) em cena (acima), vivendo um casal de foras da lei. Uma sacada interessante é ter uma androide consciente de sua importância conclamando os demais a se revoltarem contra o papel de escravos – Phoebe Waller-Bridge (de Crashing) dá vida a ela. E coube ao finlandês Joonas Suotamo vestir a roupa de Chewbacca, função já desempenhada em Os Últimos Jedi (2017). O início da amizade entre Han e Chewie é um pouco forçado, mas acabamos aceitando.

Cada vez mais parecida com o Universo Cinematográfico da Marvel, com vários personagens trançando entre filmes, a franquia Star Wars vai expandindo suas bases e preparando terreno para outros filmes. Fala-se de uma possível origem para Obi-Wan Kenobi. Han Solo deixa algumas pontas. As possibilidades são muitas. E dá para fazer ligações com outras mídias, como livros e animações. Resta esperar que os roteiristas não busquem apenas preencher lacunas, mas criar uma aventura com vida própria que satisfaça o público em suas duas horas.

Chewie não podia faltar!

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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