por Marcelo Seabra
Conhecido por variar entre comédias e dramas leves, John Krasinski vem diversificando e escolhendo trabalhos mais desafiadores, fora do que já está habituado. Não à toa, ele é o novo Jack Ryan na série de TV e andou pegando papéis como os de Detroit em Rebelião (2017) e 13 Horas (2016). Agora, ele inovou como diretor e assina Um Lugar Silencioso (A Quiet Place, 2018), um suspense aparentemente simples e muito bem executado que vem arrecadando grandes somas nas bilheterias.
A trama é bem sucinta: em algum momento nos próximos dois anos, criaturas cegas e sensíveis ao som vão aparecer e dizimar a população do planeta. Quem sobrar terá que se refugiar onde der e viver em silêncio. Acompanhamos a saga de uma família que precisa se policiar o tempo todo, qualquer barulho pode ser fatal. Vivendo o casal adulto, temos o próprio Krasinski e sua esposa, Emily Blunt (de A Garota no Trem, 2016), pela primeira vez trabalhando juntos.
A cumplicidade do casal pode ser percebida em tela. Eles passam muita verdade num relacionamento que naturalmente já tem suas peculiaridades, e é complicado pelas circunstâncias. Ajuda ter jovens talentosos interpretando as crianças, com destaque para o atual queridinho de Hollywood Noah Jupe (de Extraordinário e Suburbicon, ambos de 2017). Ele e Millicent Simmonds (de Sem Fôlego, 2017) formam uma ótima dupla como os filhos mais velhos, obrigados a tamanha responsabilidade já em tenra idade.
A história de Um Lugar Silencioso cria certas regras que poderiam levar um espectador mais cético a fazer questionamentos, até a indicar possíveis furos de roteiro. Mas a verdade é que não dá para adivinhar o que aconteceria naquela situação, e os roteiristas (Bryan Woods, Scott Beck e Krasinski) oferecem saídas satisfatórias. E o ponto que mais chama a atenção no longa é a montagem: Christopher Tellefsen (de Assassin’s Creed, 2016) é extremamente feliz em seus cortes, escolhendo cirurgicamente o que mostrar e jogando a tensão nas alturas.
O cenário é bem explorado pelo diretor, que faz com que os personagens circulem e nos apresentem à geografia do lugar, além de usar bastante a própria casa onde moram. Tudo é bem estabelecido e a fotografia de Charlotte Bruus Christensen traz uma certa melancolia própria da vida no campo. Em um filme marcado por silêncios, como o título já estabelece, a trilha sonora teria um papel importante. Marco Beltrami (de Logan, 2017) entende isso bem e compõe faixas discretas, que não se sobrepõem às cenas.
Com todos os elementos bem encaixados e as regras desse universo sendo respeitadas, é o público que ganha. Ao estilo do também recente Ao Cair da Noite (It Comes at Night, 2017), Um Lugar Silencioso nos envolve no drama daquela família e faz com que nos importemos com eles, criando um ambiente eficaz de terror que nos deixa apreensivos 100% do tempo. Não estranhe se você pular da poltrona ou soltar uns grunhidos vez ou outra.
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Interessante como foi hipnotizante a atmosfera criada pelo filme, na sessão de cinema o publico ficou em completo silencio como se estivessem sobrevivendo a mesma ameaça do filme. Eu em particular não conseguia falar também. Como é bom ver obras desse porte.