por Marcelo Seabra
Se ainda não estava comprovado que Jennifer Lawrence consegue segurar um filme nas costas, Operação Red Sparrow (Red Sparrow, 2017) resolve essa dúvida. Com uma trama intricada que vez ou outra deixa o público confuso, é a atriz a responsável por levar o espectador e fazer com que ele não pense muito nos absurdos vistos. O resultado é divertido o suficiente e a mistura de suspense, sensualidade e violência deve agradar.
Tendo dividido opiniões com mãe! (mother!, 2017), Lawrence mudou radicalmente de rumo e protagoniza uma história de espionagem nos moldes de Salt (2010) ou do mais recente Atômica (Atomic Blonde, 2017). Da mesma forma que Angelina Jolie e Charlize Theron, Lawrence atrai toda a atenção para si e nos faz crer na trajetória da personagem, uma bailarina ferida que precisa seguir outro caminho para sustentar a mãe doente.
Quando a crise financeira familiar aperta, ela recebe a oportuna visita de um tio distante (Matthias Schoenaerts, de Longe Deste Insensato Mundo, 2015) que oferece uma missão um tanto escusa. Ela trabalharia para o alto escalão do governo cumprindo uma tarefa aparentemente simples. Mas uma coisa leva a outra e logo ela se vê frequentando um curso para se tornar uma máquina de seduzir e espionar, algo como um Bourne que usaria de outras formas para conseguir informações. Ou, quem sabe, uma Viúva Negra.
O conceito do curso de Sparrows (os tais espiões) já é algo inconcebível, e as coisas vão ficando cada vez mais loucas. No meio de tudo isso, Lawrence usa bastante sensualidade e, pela primeira vez em sua carreira, mostra um pouco mais de seu corpo, numa cena que mostra o poder do sexo. Ao invés de se sentir mal, ou invadida, como quando suas fotos íntimas foram vazadas, a atriz conta em entrevistas que se sentiu empoderada, no controle, já que agora a escolha foi dela.
O austríaco Francis Lawrence dirigiu Jennifer em três filmes da franquia Jogos Vorazes, são velhos conhecidos. Isso deve ter dado segurança a ela para ir mais longe no quesito sensualidade. O irregular Justin Haythe (de A Cura, 2016), que adaptou o livro de Jason Matthews, criou um roteiro que dá muitas voltas e se pretende mais complexo do que o é de fato. Por isso, a força de Jennifer é tão necessária. Caso contrário, seria mais uma bobagem do Cinema americano, como as muitas lançadas todos os anos.
Os demais nomes do elenco de Red Sparrow cumprem seus papéis sem nenhuma fagulha de brilhantismo. Tudo bem normal, com destaque para a semelhança física de Matthias Schoenaerts e Vladimir Putin, o que é bem inusitado, tendo em vista que ele vive um alto político russo. Jeremy Irons (de Assassin’s Creed, 2016) segue no piloto automático e Joel Edgerton (de Bright, 2017) até se esforça, mas não tem muito para onde crescer. Se o longa tem os russos como protagonistas, isso não significa necessariamente passar uma imagem interessante deles. Pelo contrário: abusando de clichês, o roteiro os mostra como corruptos e traiçoeiros, enquanto os americanos parecem sempre querer fazer a coisa certa.
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