por Marcelo Seabra
Um dos destaques da temporada do Oscar, Lady Bird: É Hora de Voar (2017) chega essa semana aos cinemas e traz uma dupla de peso. Grande motivo do falatório gerado em torno do filme, as duas atrizes principais de fato dão um show. E são elas que tornam a obra superior a tantas outras histórias de amadurecimento que chegam aos cinemas e à TV todos os anos.
Indicada pela Academia pela direção e roteiro original, Greta Gerwig fez aqui sua estréia no comando de um longa. Tudo é muito correto, bem encaixado, mas nada que se destaque tanto para merecer tamanho barulho. A questão da diversidade entre indicados foi levantada e é muito importante. Mas diretoras como Patty Jenkins (de Mulher-Maravilha) e Kathryn Bigelow (de Detroit em Rebelião) talvez merecessem bem mais o reconhecimento, tendo conseguido reunir sucesso de público e de crítica.
A Lady Bird do título é uma adolescente que tem consciência de que pode não ser tão inteligente ou simpática quanto outras por aí. Ou mesmo especialmente bonita, ou ter qualquer outra característica que a destaque. Mas, mesmo assim, ela quer seu lugar ao sol, buscando a todo custo sair de sua cidadezinha e ir estudar em um grande centro cultural. Saoirse Ronan (de Brooklyn, 2015) é sempre muito eficiente e recebe aqui sua terceira merecida indicação ao Oscar.
Fazendo uma dobradinha com Ronan, Laurie Metcalf (de The Big Bang Theory) vive a mãe de Christine e, juntas, elas representam os conflitos de gerações que tantas famílias presenciam todos os dias. Sacramento, na Califórnia, era para ser uma cidade grande, é a capital do estado, mas parece que nada acontece lá (como vimos em O Estado das Coisas). Mãe e filha vão a lojas, cuidam de suas vidas (no trabalho e na escola) e brigam muito, e a vida segue sem maiores ocorrências.
O nome Lady Bird, que Christine escolhe para si e pelo qual exige ser tratada, é um dos sinais de rebeldia de grife que a garota exibe, como muitos jovens que não têm exatamente do que reclamar, mas reclamam assim mesmo. O pai (Tracy Letts, de The Post, 2017) passa por dificuldades profissionais, mas é sempre uma boa fonte de conselhos. Garotos cruzam o caminho dela (boas atuações de Lucas Hedges e Thimotée Chalamet), amigas vêm e vão, tudo bem convencional.
Diálogos interessantes e personagens tridimensionais não faltam em Lady Bird (o subtítulo pavoroso a gente abandona). E isso é mais do que muito filme tem a oferecer. Mas não passa disso. O que nos deixa sem entender tamanho hype.
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