por Marcelo Seabra
Um daqueles nomes que surgem de repente e parecem estar por aí há tempos, Timothée Chalamet tem nome e cara de europeu e não domina apenas o inglês, mas é de fato norte-americano. E chegou para ficar. Ele vive Elio, um adolescente em férias no norte da Itália em 1983. Ao ser indagado sobre o que faz lá, ele responde que apenas espera o verão passar. Nada, escreve, toca piano, bebe com amigos.
Em meio a essa pasmaceira, Elio recebe com a família um pesquisador americano que vai trabalhar com seu pai (vivido por Michael Stuhlbarg, de A Chegada, 2016). Oliver (Armie Hammer, de Animais Noturnos, 2016) é um bonitão extrovertido que chama a atenção de todos e desenvolve uma forte relação com Elio. O jovem, por sua vez, se vê deixando sua postura segura e galante junto às meninas locais e fica quase carente, na dependência da atenção de Oliver.
Filmes sobre amadurecimento, os chamados “coming of age”, não são raros. Temos, ainda nessa temporada, Lady Bird (2017), também com Chalamet no elenco. Mas é difícil encontrar uma obra tão sensível, com personagens que, embora inteligentes, se veem à mercê da vida e seus desígnios misteriosos. Quando tudo parecia claro, Elio começa a se conhecer melhor e a descobrir sentimentos que estavam enterrados. E a adolescência, que já é um período conturbado normalmente, fica ainda mais desafiadora.
De forma bem autêntica, o diretor Luca Guadagnino (de Um Mergulho no Passado, 2015) retrata o crescimento de um rapaz que vive conforme as convenções até descobrir que ele talvez não seja assim tão convencional. E bate o medo que surge de ir contra o que está estabelecido usualmente. Ajuda ter uma família compreensiva e amorosa, com pais intelectuais, abertos às possibilidades, que só querem seu filho feliz. O ótimo roteiro, que adapta o livro de André Aciman, é de ninguém menos que James Ivory, veterano roteirista e diretor que assina obras como Retorno a Howards End (1992) e Vestígios do Dia (1993) e estava afastado do Cinema desde 2009.
Chalamet vestiu perfeitamente o papel de Elio, numa interpretação focada, indo de alegre a torturado em segundos. Hammer, como o expansivo Oliver, também mostra enorme desenvoltura num trabalho corajoso, sem problemas em se entregar. E, apesar do pouco tempo em cena, Stuhlbarg rouba os holofotes quando aparece, com alguns dos melhores diálogos do longa. Os três são o cerne de Me Chame Pelo Seu Nome. Não espere por nada glamouroso ou muito inventivo. É apenas um justo retrato da vida de Elio. E isso já é muito.
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