por Marcelo Seabra
Essa época de fim de ano e início do seguinte é propícia para a chamada respescagem, correr atrás dos filmes que acabaram passando direto. Um deles, que estava há pouco em cartaz, é Suburbicon: Bem-vindos ao Paraíso (2017), novo longa dirigido por George Clooney. Não é difícil perceber que tem dedo dos irmãos Coen no roteiro, mas a história é pouco mais previsível que as produções usuais deles.
Matt Damon (de Jason Bourne, 2016) vive um tranquilo morador de uma comunidade suburbana que parece idílica. Mas, como é tradição para os Coen (como no famoso Fargo, de 1996) e para o próprio Clooney (que comandou Tudo Pelo Poder, 2011), a aparência esconde bastante hipocrisia e coisa pior, como racismo e até assassinato. O personagem de Damon tem sua casa invadida e sua vida muda a partir daí, além de acompanharmos o caso de violência contra a família negra que se mudou recentemente para a vizinhança.
Dois destaques do elenco são Julianne Moore (de Kingsman 2, 2017), em papel duplo e fantástica, como sempre, e Oscar Isaac (de Star Wars: Os Últimos Jedi, 2017), vivendo um sujeito que poderia facilmente ter ficado para Clooney. Mas o grande nome a ser ressaltado é o do pequeno Noah Jupe, destaque também em Extraordinário (Wonder, 2017). O garoto é o alvo principal da atenção do público e Jupe segura bem a responsabilidade.
Na direção, Clooney mostra segurança e a montagem, bem enxuta, agiliza as coisas. A reconstituição de época é ótima e os diálogos expõem apenas o necessário, com altas doses de cinismo, revelando aos poucos o verdadeiro caráter daquele pessoal. Saber de antemão aonde aquilo vai chegar nem tira o prazer da jornada, e é muito fácil prever. Mas os ingredientes funcionam tão bem juntos que 100 minutos se passam num instante.