Poirot investiga um novo Assassinato no Expresso Oriente

por Marcelo Seabra

Com a rapidez que certas obras da literatura têm ganhado novas roupagens no Cinema, é de se estranhar que Agatha Christie estivesse intocada por tanto tempo. Eis que Kenneth Branagh, se recuperando de uma sequência de filmes nada memoráveis, como Cinderela (2015) e Operação Sombra: Jack Ryan (2014), assume o comando de um novo Assassinato no Expresso Oriente (Murder on the Orient Express, 2017), recrutando um elenco de se invejar. E todas as demais peças se encaixam.

A história, mais do que conhecida, acompanha um grupo bem heterogêneo fazendo uma viagem no Expresso Oriente do título quando um assassinato ocorre. Acontece que o maior detetive do mundo está a bordo, e não estamos falando de Sherlock Holmes, muito menos do Batman. Trata-se da mais famosa criação de Christie: o belga Hercule Poirot. Vivido pelo próprio Branagh, ele passa longe de afetações ou arrogância, mas é de fato alguém bem meticuloso, que gosta de tudo no seu devido lugar.

Assim como seu personagem, o diretor se mostra bem detalhista, aproveitando várias oportunidades discretas para construí-lo. Rapidamente, conhecemos bastante de sua personalidade, e o fato de Branagh ser fluente em muitas línguas ajuda muito na composição. Vários intérpretes já tiveram essa missão, como Albert Finney (na adaptação de 1974 do mesmo livro) e Peter Ustinov, este em nada menos que seis ocasiões. Branagh se coloca como um dos melhores e já garante vida nova também a Morte Sobre o Nilo, que Ustinov protagonizou em 1978 e deve ser a próxima aventura de Poirot.

Dentre os passageiros, Johnny Depp se destaca como o detestável Sr. Ratchett. Temos ainda: Michelle Pfeiffer (Sra. Hubbard), Penélope Cruz (Pilar Estravados, uma versão hispânica de Greta Ohlsson), Judi Dench (Princesa Dragomiroff), Derek Jacobi (Masterman), Leslie Odom Jr. (Dr. Arbuthnot, uma mistura de dois personagens), Daisy Ridley (Mary Debenham), Lucy Boynton (Condessa Andrenyi), Tom Bateman (Bouc), Manuel Garcia-Rulfo (Biniamino Marquez, uma versão de Antonio Foscarelli), Josh Gad (MacQueen), Marwan Kenzari (Pierre Michel), Sergei Polunin (Conde Andrenyi), Willem Dafoe (Gerhard Hardman) e Olivia Colman (Hildegarde Schmidt).

Pelos personagens acima, pode-se perceber pequenas modificações feitas no original, mas nada que vá causar dano à obra. O elenco está muito bem, de uma forma geral, especialmente Michelle Pfeiffer, que sempre rouba a cena. E a ambientação de época é impecável, assim como as paisagens gélidas que vemos pelas janelas do trem, ou nas elegantes tomadas aéreas que nos mostram o caminho por onde eles estão passando.

O mistério é interessante e prende o espectador até o final. Só vai perder um pouco da emoção quem já conhece a história, pelo livro ou pelas várias versões para o Cinema. Esta, sem dúvida, é das melhores, e deve ser apenas o início de uma franquia de Poirot. Se continuar assim, será bem superior a outras que vemos por aí.

Quem foi?

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

View Comments

  • Caro Marcelo,
    Assisti o filme, bem como li livro (e quase todo da Dama do Crime). A versão de 1974 também.
    Nesse remake, cabe elogios ao figurino de época e à fotografia, por mais que percebamos muita coisa ser criada por computador. Michelle Pfeiffer realmente se destaca no papel da Sra. Hubbard, fiquei até com a impressão que a personagem é mais importante no filme do que no livro, devido ao excelente trabalho da atriz.
    Agora, o Poirot, não gostei. Ok, o filme talvez não tenha a intenção de ser exatamente fiel ao livro, é uma adaptação... mas cadê aquele baixinho chato e arrogante dos livros? Ficou cansativo o Poirot mandando os homens arrumarem as gravatas o tempo todo, numa alusão àquele vicio de organização que vemos nos livros...
    Sempre é bom ver Agatha Christe no cinema, mas eu esperava um pouco mais dessa versão!

    • É uma pena, Fred. Quem sabe no próximo as coisas se equilibrem melhor?
      Abraço!

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