por Rodrigo “Piolho” Monteiro
Assim como Batman vs Superman, Liga da Justiça (Justice League, 2017) é um filme que passou por diversos percalços para chegar às telonas. Dois deles, ambos envolvendo o diretor Zack Snyder, foram fundamentais para que o que vemos na tela seja algo bem distante do que se espera regularmente do diretor: um filme visualmente esplêndido, mas sem alma, sombrio e depressivo.
O primeiro se deu justamente devido ao fato de Snyder não aceitar a enxurrada de críticas negativas que seu segundo esforço em transportar personagens da DC para a telona – o primeiro foi Homem de Aço, de 2013 – recebeu. Isso, somado ao fato de a bilheteria do filme ter ficado bem abaixo do esperado, fez com que os executivos da Warner tirassem um pouco da autonomia de Snyder e dessem a Geoff Johns, chefe criativo da DC, algum poder de decisão.
De cara, Johns (abaixo), que é um escritor bastante criativo e que revitalizou personagens como o Lanterna Verde e Aquaman – que se tornou bem interessante nas mãos dele – além da própria Liga da Justiça, determinou uma mudança de rumo: chega de filmes sombrios e depressivos. As pessoas querem acreditar em super-heróis e precisamos ter esse sentimento de esperança em nossas produções. Isso já determinou em parte o que viria a seguir.
Outro fator que contribuiu para o resultado de Liga da Justiça, ainda que venha de uma tragédia, foi o afastamento de Snyder da produção em maio devido ao suicídio de sua filha Autumn, em março. Para completar a película, a Warner decidiu contratar Joss Whedon, diretor de Os Vingadores (2012) e Os Vingadores: A Era de Ultron (2015). Coube a Whedon cuidar de algumas refilmagens, escrever cenas extras e novos diálogos e ajudar a terminar o filme. Isso fez com que o produto fosse uma mistura dos estilos de ambos os diretores: temos a beleza visual e o cuidado técnico de Snyder e a leveza e a diversão de Whedon. E isso fez com que Liga da Justiça se tornasse o melhor filme da DC até agora, e bem parecido com seu irmão mais velho da Marvel.
O fato é que, desde os anos 1940, quando a Sociedade da Justiça foi introduzida nos quadrinhos, as histórias de grupos de heróis utilizam-se, basicamente, da mesma fórmula: um bando de seres poderosos que é forçado a se juntar para combater um mal que, sozinhos, nenhum deles poderia enfrentar. Foi assim com a Liga da Justiça original (que apareceu nos quadrinhos pela primeira vez em 1960), com os Vingadores (1963), os Jovens Titãs (1964), os Defensores (1971) e por aí vai. Quarteto Fantástico e os grupos sob a égide do X (X-Men, X-Factor, Geração X e afins) fogem à regra, já que eles se unem por razões de afinidade.
Assim como seus antecessores, Liga da Justiça não foge à regra. Quando a história começa, o mundo ainda vive o luto pela perda do Superman. A ausência do kryptoniano faz com que forças poderosas se interessem em invadir e dominar nosso planeta. O pretenso conquistador da vez é Steppenwolf (ou Lobo da Estepe, vivido por Ciarán Hinds, de Dois Lados do Amor, 2015), um ser alienígena milenar que estava esperando apenas o momento certo para unir três artefatos que lhe dariam total poder sobre nosso planeta.
Mesmo sem tomar consciência total da ameaça, Bruce Wayne/Batman (Ben Affleck) sente que o planeta será atacado por um inimigo que ele é incapaz de deter sozinho. Contando com a ajuda de Diana Prince/Mulher-Maravilha (Gal Gadot), ele parte em busca de três seres poderosos que poderiam ajudá-los na defesa do planeta: o velocista Barry Allen (Ezra Miller), o Protetor dos Mares Aquaman (Jason Momoa) e o híbrido humano-máquina Victor Stone (Ray Fisher). Cabe ao quinteto deter a ameaça eminente de destruição do planeta.
Liga da Justiça faz o que nenhum filme da Warner/DC fez até o momento, que é ser uma experiência divertida e empolgante. As cenas de ação são tecnicamente bem feitas e parecem menos bagunçadas do que vimos em algumas sequências de Batman vs Superman. E os diálogos melhoraram bastante desde seu antecessor. A história flui melhor e não há muitos buracos de roteiro que incomodem. Há soluções preguiçosas, mas nada no nível de “não me mate porque minha mãe e a sua se chamam Martha”.
Existe, no entanto, um abismo de continuidade entre Batman vs Superman e Liga da Justiça e isso se dá principalmente nos protagonistas. Se em Batman vs Superman o Cavaleiro das Trevas era um sujeito amargurado e sentindo o peso das duas décadas combatendo o crime, aqui ele parece ter adquirido outra personalidade. O Bruce Wayne que se vê aqui é mais carismático, afável e, principalmente, dotado de bom humor. Sim, Batman conta piadas quase que o tempo todo, algumas ácidas, outras nem tanto, perdendo apenas para o Flash de Miller e o Aquaman de Momoa. Já o Superman de Cavill nunca pareceu tão humano. Sai o sujeito que parece não se encaixar em nenhum lugar, entra o ser poderoso que faz piadas e ri de si mesmo, até dando entrevista para crianças.
Essa mudança de personalidade de ambos pode incomodar alguns, especialmente aqueles que acham que os filmes da DC devem ser sombrios e soturnos para contrastar com a colorida Marvel. Esses, no entanto, são uma minoria. Liga da Justiça finalmente mostra os personagens da DC como devem, com uma ressalva aqui e ali, e esperamos que essa mudança de tom nas produções da Warner/DC seja definitiva.
Uma última observação: o longa tem duas cenas após seu fim, uma no meio e uma no final dos créditos. Vale a pena ficar para ambas.
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