por Marcelo Seabra
As adaptações das histórias de Stephen King chegam ao Cinema e à TV num volume tão grande que é preciso peneirar bem para chegar às de qualidade. A boa notícia é que a mais recente a entrar em cartaz, It – A Coisa (2017), é uma das melhores. E é talvez aquela que melhor leva às telas o clima criado pelo autor, com todos os sentimentos que vêm à tona quando lemos seus livros.
A versão para a TV, de 1990, posteriormente editada como filme, causou uma impressão forte em quem a assistiu em grande parte devido ao ótimo trabalho de Tim Curry. O ator deu vida ao vilão e ficou marcado como um dos grandes pesadelos a assombrar a todos nós. Mas, de uma forma geral, não era um filme brilhante, e perde a graça em sua segunda metade.
Dessa vez, temos Bill Skarsgård (acima) como Pennywise e é importante ressaltar que ele não deixa nada a dever a Curry. Visto recentemente em Atômica (Atomic Blonde, 2017) e na franquia Divergente, o filho de Stellan e irmão de Alexander já conquistou identidade própria e é um dos novos talentos a acompanhar. Ele faz um palhaço ameaçador que, até quando tenta ser simpático, tem um quê que incomoda. Seu uso vocal é fantástico, compondo o personagem nos mínimos detalhes, e ele ainda conta com um figurino impecável.
A trama nos apresenta a quatro garotos em vias de entrarem nas férias de verão e que, mesmo assim, não ficam livres das ameaças dos valentões da escola. Por esse interesse em comum, digamos assim, eles acabam se aliando a outros três e formam o “Grupo dos Perdedores”. E há outra coisa que os une: visões macabras trazendo à vida os piores pesadelos deles, geralmente personificados por um palhaço. Eles logo fazem a associação às crianças desaparecidas da cidade e entendem que são aqueles que devem parar essa ameaça.
Outro grande trunfo desse novo It é o grupo de jovens atores (incluindo Finn Wolfhard, de Stranger Things) e a relação entre eles. Depois de muito laboratório, eles realmente ficaram próximos, chegando a afirmar em entrevistas que as filmagens foram os melhores três meses de suas vidas. Esse laço é fundamental para vender a história e nos remete a outros projetos bem-sucedidos, como Os Goonies (1985), Super 8 (2011) ou o óbvio Conta Comigo (Stand By Me, 1986), também baseado na obra de King.
Como de costume na obra do mestre do terror, não faltam sustos e situações de tensão, muito bem entrecortados por momentos de humor. Mas isso não é o principal: há vários temas sendo desenvolvidos e o roteiro o faz lindamente. O amadurecimento, as dúvidas da juventude, o primeiro amor, a importância da amizade e a superação de traumas e dificuldades são alguns deles. Não importa se com crianças, como em Conta Comigo, ou se com adultos, como em Um Sonho de Liberdade (The Shawshank Redemption, 1994), alguns desses assuntos estão sempre presentes. A criatura que espreita acaba sendo uma metáfora, aqui mais clara que o usual.
Descoberto por Hollywood com o curta Mamá (2008) e o longa que o expande, Mama (2013), o diretor argentino Andrés (ou Andy) Muschietti entende o peso de seu elenco e sabe a hora de mostrar e a de sugerir. A fotografia de Chung Chung-hoon (de Segredos de Sangue, 2013) explora bem desde os parques e lagos até o esgoto e seus cantos escuros, passando por uma boa e velha casa assombrada. E Benjamin Wallfisch (de Annabelle 2, 2017) dosa muito bem sua trilha sonora, elegante e nada invasiva. As músicas populares que aparecem, como as de The Cure e XTC, são escolhidas a dedo e fogem do habitual.
Existe apenas um porém que pode desanimar aqueles que não conhecem o livro de King. Como ele é enorme, não daria para fazer apenas um filme de duas horas com todas as passagens necessárias, mesmo com alterações e simplificações. Nem na minissérie da TV, com mais de três horas de duração, coube tudo. Por isso, os envolvidos optaram por dividir a história em duas partes. O início da produção do capítulo 2 é esperado para março de 2018 com a mesma equipe. Já aguardamos ansiosamente.
Adorei a critica, sou fã de King há anos, pensei em nem ver o filme mas você me animou!
Que bom! Vá lá! E não deixe de voltar aqui!
Sabe o nome da música do The Cure que aparece?
Diego, a música do Cure em It é Six Different Ways. E a do XTC é Dear God, caso interesse – é boa também. Abraço!
Filmaço…como já esperava