por Marcelo Seabra
Quantos filmes podemos lembrar que têm, como razão de ser, a busca por uma lista? “Caiu em mãos erradas a lista com os nomes de nossos espiões e todos correm risco”. Esse é um fiapo de trama bem batido que pode ou não ser bem utilizado. Mais um longa que se enquadra nessa relação é Atômica (Atomic Blonde, 2017), novo veículo para Charlize Theron mostrar que, além de saber atuar, é muito boa de briga.
Partindo do ponto mencionado, a agente britânica Lorraine Broughton (Theron, de Velozes e Furiosos 8, 2017) chega em Berlim pouco antes da derrubada do muro para encontrar a tal lista roubada de um colega/romance assassinado. Lá, ela é informada que terá que trabalhar com o responsável local, o pouco confiável David Percival (James McAvoy, de Fragmentado, 2016 – abaixo), e ainda precisará descobrir a identidade de um agente duplo. Engrossando o elenco, temos John Goodman, Toby Jones, Eddie Marsan, Til Schweiger, Sofia Boutella e Bill Skarsgård (o novo Pennywise de It).
Tudo isso é desculpa para o diretor David Leitch colocar em prática todas as suas técnicas de ação. Depois de uma longa carreira como dublê e coreografar diversas lutas e perseguições, e até dirigir cenas de John Wick: De Volta ao Jogo (2014), Leitch partiu para novos desafios. E essa parte em Atômica é impecável. O diretor demonstra ter um domínio perfeito do que mostrar, o quanto mostrar, e como posicionar atores, câmera e os demais objetos de cena. A tensão e o suspense são bem trabalhados e tudo fica crível, e até surpreendente. E o cansaço e os hematomas dos personagens são muito bem mostrados, tornando as coisas mais reais.
Depois de roteirizar 300 (2006) e sua continuação (2014), Kurt Johnstad partiu para outra revista em quadrinhos, The Coldest City, de Anthony Johnston e Sam Hart. Inicialmente, o título do filme seria esse também, mas Atômica (ou Atomic Blonde) chama mais a atenção para a força de sua protagonista, talvez numa tentativa de valorização da mulher. O problema é que, se por um lado a obra parece ter esse nobre propósito, por outro ele incorre em pecados contrários: em fetichizar duas belas mulheres que se envolvem e no corpo da protagonista. E vai se alternando entre as duas posturas.
Todos os homens do roteiro parecem ser machistas que não acham possível que uma mulher consiga cumprir uma missão complicada como aquela. Mas os superiores de Lorraine a escolheram, e ela mostra dar conta do recado. Ou seja: o machismo parece estar presente na frente das câmeras, na forma como os personagens pensam. Mas os principais problemas do roteiro são a forma como ele complica algo simples, fazendo parecer que tem muito mais elementos envolvidos na trama do que de fato tem, e a sua estrutura, que depende de voltar o tempo todo numa sala onde acontece um interrogatório que dura toda a sessão.
Se Leitch acerta nas cenas de ação, outro ponto alto é a trilha sonora. Mesmo um pouco previsíveis, se você é ligado em música, as faixas escolhidas funcionam muito bem. Desde o trailer, com Blue Monday (com New Order e na versão do Health), e vêm Depeche Mode, Queen, Clash, Nena, Siouxsie & The Banshees, David Bowie, entre outros. Ah, e como diretor do segundo Deadpool, não poderia faltar uma brincadeira com o saudoso George Michael, aqui em carreira solo. Entre erros e acertos, Atômica é um filme divertido que acaba cansando e se beneficiaria de uma estrutura mais direta e menos minutos de exibição.
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