por Marcelo Seabra
Para quem achava que Annabelle já tinha tido sua origem contada, eis que surge Annabelle 2: A Criação do Mal (Annabelle: Creation, 2017). Trata-se de uma pré-continuação de uma pré-continuação, voltando mais no tempo para contar a gênese da boneca do capeta revelada na franquia Invocação do Mal (The Conjuring). Agora, vemos seu criador colocando os detalhes e finalizando a entrega, e descobrimos que ela foi a primeira de uma produção limitada de 100 exemplares. Ou seja: ainda poderemos ter uma expansão desse quadro com as outras 99.
Brincadeiras à parte, é importante ressaltar que este novo capítulo é eficiente dentro do que se propõe a fazer. Como é comum nesse universo (sim, já falam em universo compartilhado, igual aos dos quadrinhos), os cantos escuros de um casarão são bem explorados. O diretor David F. Sandberg também foi feliz em seu longa anterior, Quando as Luzes Se Apagam (2016), especialmente nesse quesito. Ele sabe bem criar um clima de suspense e explorar os elementos sobrenaturais da trama, alternando passagens bem tensas e sustos fáceis, daqueles anunciados pela trilha sonora. Ajuda muito também ter o mesmo roteirista do longa anterior, Gary Dauberman, que se mostra bem à vontade – e escreveu também o inédito longa solo da freira demoníaca, que faz aqui uma pontinha.
Muito lembrado pelo jovem cult Sexo, Rock e Confusão (Empire Records, 1995), e mais recentemente pela série Without a Trace, Anthony LaPaglia (acima) vive o artesão que cria a boneca e presenteia a filha com ela. Não vamos entrar na discussão do mau gosto do sujeito, ou talvez da falta de habilidade com rostos. A questão é que logo a tragédia chega na família, e eles se retiram da vida em comunidade por anos. O fechamento de um orfanato é a oportunidade deles fazerem o bem, e recebem em casa uma freira e as crianças sob a tutela dela. A esposa reclusa é vivida pela competente Miranda Otto (de Frankenstein: Entre Anjos e Demônios, 2014), e há ainda uma curta participação de Brad Greenquist, conhecido dos fãs do gênero como o menino morto-vivo do cartaz de O Cemitério Maldito (Pet Sematary, 1989).
Com pouco tempo no casarão, as meninas começam a notar fenômenos estranhos – dos mais discretos aos apelativos. E, como poucos diretores têm coragem de fazer, Sandberg parece ir progressivamente perdendo os freios, levando o terror aos extremos. Nada muito diferente dos demais filmes-irmãos, todos variando pouco quanto à qualidade. E, falando em pontos positivos, o elenco jovem é bem sucedido, com destaque para Lulu Wilson, que já havia chamado a atenção em uma pré-continuação de terror, Ouija: Origem do Mal (2016). Stephanie Sigman, a freira Charlotte, é outra que vem dando seus pulos, como em 007 Contra Spectre (2015), Narcos e Shimmer Lake (2017).