por Marcelo Seabra
Várias séries de décadas passadas já ganharam vida nova no Cinema. Muitas, com premissas interessantes que poderiam ser modernizadas ou ganhar nova roupagem, caso de Anjos da Lei e O Agente da UNCLE. Mas o que dizer de Baywatch, ou SOS Malibu, no Brasil? Que a motivação é dinheiro, todos sabemos, mas será que realmente parecia uma boa ideia? Quem quiser tirar sua própria conclusão poderá conferir o longa a partir dessa semana, quando o novo Baywatch (2017) estreia.
Com um orçamento perto dos US$ 70 milhões, o filme acaba de chegar aos 80 milhões, reunindo bilheterias americanos e internacionais, o que é considerado um desempenho bem abaixo do esperado. O volume de trailers e vídeos promocionais mostram que os executivos estão correndo atrás do prejuízo, o que permite ao público ver o filme praticamente todo antes da estreia. Até o final é mostrado em partes, basta juntá-las, e não sobra muito para a telona. Alguém queria ver Zac Efron vestido de mulher? Basta entrar no YouTube.
Como na série, o longa acompanha o chefe de um grupo de salva-vidas, Mitch Buchannon (Dwayne Johnson, de Velozes e Furiosos 8, 2017), enquanto ele toca a equipe e garante a segurança na praia Emerald Bay, Flórida. É impressionante como acontecem coisas lá, e os banhistas parecem todos desastrados. Mas evitar afogamentos não é o principal para Mitch: sempre que pode, ele se mete a policial e investiga situações. Uma nova droga tem aparecido com frequência na praia, o que leva o sujeito a querer saber mais.
Ao mesmo tempo em que acredita que a empresária Victoria Leeds (a estrela indiana Priyanka Chopra, de Quantico) tem algo de suspeito, Mitch precisa treinar novos recrutas, entre eles o convencido e burro Matt Brody (Efron, de Os Caça-Noivas, 2016), um medalhista de natação em desgraça. É bacana como Efron aceita fazer graça com sua aparência e sua fama, ele responde por muitos dos momentos engraçados. Há, inclusive, uma referência a um de seus papéis mais famosos. O humor do filme, na maioria das cenas, funciona, o que permite ao público dar boas risadas. E há uma parcela bem apelativa, relacionada a sexo e partes do corpo, que chega a constranger.
O grande problema de Baywatch é quando ele resolve partir para seu fiapo de trama, o que teoricamente deveria acontecer num tom mais sério. Isso não chega a acontecer e é muito estranho ver os personagens fazerem piada em momentos potencialmente perigosos, o que não permite que o filme engrene. O roteiro, com créditos para inacreditáveis seis roteiristas, é dos mais furados e tem aqueles momentos em que o capanga do vilão fica esperando, com a arma apontada, que o mocinho escape. Não tem outra explicação! Há cenas que parecem ser a versão Velozes e Furiosos de jet ski e barco, pegando o que há de pior dessa outra franquia.
Como a série original foi produzida entre 1989 e 1999, havia aquelas características da década de 90 que hoje são consideradas bregas, como penteados, roupas e maneirismos ao filmar. Como o filme brinca com isso, não falta a famigerada câmera lenta, o que é motivo de piada, pulos heroicos de lanchas em movimento e closes nos corpos sarados na praia, principalmente nos das meninas. Acompanhadas de perto pelo cinegrafista, não é apenas o cabelo delas que balança, ressaltando todos os seus atributos físicos. E não faltam atrizes lindas, como Ilfenesh Hadera (de Master of None – à esquerda), a modelo Kelly Rohrbach (centro) e Alexandra Daddario (de Terremoto, 2015 – à direita). O alívio cômico, como se o longa precisasse de um, é Jon Bass (de Loving, 2016), contratado exclusivamente para passar vergonha.
Já que há tantos clipes de Baywatch disponíveis na internet, alguém poderia ter a ótima ideia de cortar apenas os momentos que funcionam e juntá-los. De quase duas horas, o filme cairia para uns 15 minutos, mais ou menos. Esse novo trabalho não fica nada bom para o currículo do diretor Seth Gordon (de Uma Ladra Sem Limites, 2015). Mas, como não há muita coisa lá que se salve (talvez Quero Matar Meu Chefe, 2011), será apenas mais um tropeço. As participações especiais, que deveriam ajudar, só causam constrangimento. A certeza que fica é de que o longa, ruim desse jeito, ainda é melhor que a série.