por Marcelo Seabra
Sete anos depois de lançar seu primeiro trabalho no Cinema, o designer Tom Ford volta a atacar. Chega ao Brasil Animais Noturnos (Nocturnal Animals, 2016), longa que ele escreveu e dirigiu, mais uma vez mostrando sua atenção aos detalhes e seu apuro técnico. Intercalando duas histórias, ele consegue tratar de vários temas, mas basicamente das relações humanas. A crítica americana tem se dividido, mas a média final é boa, e muitos dos problemas apontados são infundados. E uma coisa é inegável: ele fica na cabeça até bem depois do fim da sessão.
É interessante perceber como um longa consegue furar suas expectativas e isso pode ser bom. Ele te entrega mais do que era esperado, ou de outra forma completamente diferente. Pelas poucas linhas sobre a trama lidas anteriormente, parecia ser outra coisa. É daqueles filmes que dão vontade de sentar com alguém que tenha assistido e discuti-lo, ver se o outro teve a mesma percepção que você. Entrar nos detalhes, nas sutilezas, ouvir um comentário sobre um ponto que você não percebeu, assim como acrescentar algo à percepção do outro. Isso, desde a perturbadora abertura. Mas pode ficar tranquilo: não há spoilers abaixo.
Susan (Amy Adams, de A Chegada, 2016) é uma dona de galeria que parece se sentir vazia com a vida de luxo que leva ao lado do marido rico e bonito (Armie Hammer, de O Agente da U.N.C.L.E., 2015). Quando recebe uma cópia por correios do primeiro livro de seu ex-marido (Jake Gyllenhaal, de Nocaute, 2015), ela começa a relembrar momentos com ele e como a relação chegou ao fim. E duas coisas a deixam perturbada: a dedicatória a ela na primeira página e o excesso de violência da história em suas mãos.
O elenco de Animais Noturnos já vale o ingresso. Adams, sempre muito competente, compõe uma personagem complexa, fazendo com que suas mudanças soem naturais. Gyllenhaal convence nos dois papéis: como o ex-marido, um sujeito sensível que aposta na carreira de escritor, e como seu próprio personagem, um pai de família que passa por uma situação aterrorizante na estrada. A Hammer cabe apenas ser charmoso e distante, algo que faz sem dificuldade. No rol de coadjuvantes, temos o ótimo Michael Shannon (de Batman vs Superman, 2016) como o detetive da ficção, e ainda Aaron Taylor-Johnson (o Mercúrio de Vingadores 2, 2015), Laura Linney (de As Tartarugas Ninja 2, 2016), Michael Sheen (de Masters of Sex), Isla Fisher (de A Última Premonição, 2015), Jena Malone (de Demônio de Neon, 2016) e Andrea Riseborough (de Birdman, 2014). É tanta gente boa de serviço que alguns fazem apenas uma ponta.
Desde sua primeira experiência no Cinema, Direito de Amar (A Single Man, 2009), Ford mostra que tem total noção do que está fazendo. Adaptando a história de Austin Wright, ele reúne grandes talentos e os costura da forma adequada. Além dos ótimos atores, ele conta com a fotografia de Seamus McGarvey (de O Contador, 2016), que funciona muito bem tanto na cidade, escura e fria, quanto no interior, quente e empoeirado; a montagem de Joan Sobel (também de Direito de Amar), que vai e volta entre as histórias sem confundir, mostrando apenas o necessário entre realidade, ficção e passado; a discreta trilha de Abel Korzeniowski (também de Direito de Amar), que evoca clássicos do suspense, como Bernard Herrmann; e todo o trabalho de cenografia e figurino, que dá vida aos lugares e pessoas. O resultado disso tudo certamente está em listas de melhores do ano.
Achei sensacional!
Após uma bela indicação do Pipoqueiro, creio realmente ter assistido ao filme do ano.
A single man é o próximo!
Outro grande filme, vai fundo!