Crossover de séries da DC/Warner desperdiça potencial

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Invasion CW poster

Há algum tempo, o canal americano CW tem produzido praticamente todas as séries que adaptam personagens da DC para a telinha. A única que se mantinha fora da produção de Greg Berlanti era Supergirl, que teve sua primeira temporada na CBS. Com a não-renovação de seu contrato por lá, a série migrou para o CW e se juntou a Arrow, Flash e DC’s Legends of Tomorrow. Isso criou o ambiente perfeito para que a CW investisse em uma iniciativa que é muito cara – e comum – nos quadrinhos: criar uma história que envolvesse todas as séries, o chamado crossover. Eles têm, em geral, dois propósitos: apresentar personagens a uma nova audiência e, claro, contar uma história que envolve uma ameaça que nenhum daqueles personagens sozinho conseguiria enfrentar. A ideia é que a história contada seja tão boa e divertida que faça com que os fãs passem a acompanhar todos os personagens envolvidos no evento.

Logo que teve a ideia, Berlanti & cia anunciaram aos quatro ventos que o primeiro crossover dos personagens da DC sob a responsabilidade do CW seria Invasão, história baseada na minissérie de mesmo nome que foi publicada pela DC entre o fim de 1988 e começo de 1989 nos EUA e em 1990 no Brasil. Na trama, um conclave de nove raças alienígenas lideradas pelos Dominions decide que a aparição constante de meta-humanos na Terra pode representar uma ameaça ao universo e, como o nome da série deixa claro, invade o planeta visando exterminar cada super-herói e vilão que aqui residem. Nos quadrinhos, a história principal teve três edições, mas influenciou praticamente todos os títulos então publicados pela DC. É uma minissérie legal, mas nada tão impactante como Crise nas Infinitas Terras, por exemplo.

Essa foi a premissa por trás da versão televisiva de Invasão, que acontece de maneira bem mais contida e, sinto dizer, decepcionante, a começar pela escala da ameaça e até pela propaganda da emissora, que prometeu uma história em 4 partes e, na verdade, só tem 3. Na Invasão da CW/WB, a ameaça são os Dominators, uma raça alienígena baseada – apenas visualmente – nos Dominions dos quadrinhos. Inicialmente, os Dominators teriam vindo à Terra, ou melhor dizendo, aos EUA, nos anos 1950/1960 visando apenas aprender mais com os humanos, o que significava abduzir alguns de nós para testes. As besteiras que Barry Allen/Flash (Grant Gustin) aprontou no contínuo temporal recentemente, no entanto, chamam a atenção dos aliens, que voltam à Terra e dão um ultimato: ou Barry se entrega ou eles soltam no planeta uma arma que acabaria com a população meta-humana e ainda causaria milhões de casualidades humanas.

Invasion CW scene

Para combater a ameaça dos alienígenas, Barry precisa de reforços. Assim sendo, recruta a Supergirl (Melissa Benoist) em uma Terra paralela (nem pergunte!), o Arqueiro Verde (Stephen Amell) e Dig (David Ramsey) de Star City e o grupo conhecido como Legends of Tomorrow, composto por Átomo (Brandon Routh, que já foi o Super-Homem), Onda Térmica (Dominic Purcell), Canário Branco (Caity Lotz), Nuclear (Franz Drameh e Victor Garber), Vixen (Maisie Richardson-Sellers) e Steel (Nick Zano), além de suas equipes de apoio. Apesar de a CW/Warner anunciar um evento de quatro partes, ele acabou tendo três. Isso porque ele ocupa, literalmente, menos de dois minutos do episódio de Supergirl e essa sequência é reprisada inteirinha no episódio de Flash, que efetivamente abre a saga. Aí, sim, se ramifica em Arrow e termina em Legends of Tomorrow.

O grande problema de Invasão, da forma como Belanti & cia lidaram com o crossover, é que ele tende a querer se focar demais em histórias paralelas dentro de uma maior, quase que deixando o principal – a invasão alienígena – como plano de fundo. A forma como os alienígenas tentam derrotar os membros dessa Liga da Justiça televisiva é pouco inspirada e o desfecho da história é insatisfatório. Isso, sem mencionar os efeitos especiais, que deixam claro que foram feitos com um orçamento televisivo de forma que a movimentação dos Dominators na telinha parece falsa. A única coisa que se salva em todo o encontro é justamente a Supergirl de Melissa, que tem todo aquele carisma e positivismo que combinam muito com uma personagem que, em tese, deveria ser um símbolo de esperança. Não importa o que é jogado em cima dela, a Supergirl sempre mantém a atitude de “tudo vai dar certo”, que é a essência dela e de seu primo mais famoso (APRENDE, SNYDER!). Os demais atores mantém a consistência de seus personagens sem maiores problemas.

Seja por restrições orçamentárias, seja por más escolhas de seus realizadores, Invasão é uma história com bastante potencial que ficou abaixo do esperado – algo que, infelizmente, tem se tornado comum nas adaptações da DC. Nem mesmo o fanservice que falará à criança dentro de si compensa assistir aos 3 episódios (e 2 minutos) para a conclusão da história. Invasão terá um esquema diferente de exibição na Warner. De acordo com o site Boletim Nerd, que assegura ter conseguido essas informações diretamente com a assessoria do Warner Channel Brasil, o pontapé inicial do crossover acontece no episódio de Supergirl que vai ao ar no dia 14/12, às 22h30. Os três episódios restantes serão transmitidos em sequência no dia 15/12, a partir das 21h40.

Esse era um Dominion dos quadrinhos

Esses eram os Dominions dos quadrinhos

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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4 respostas para Crossover de séries da DC/Warner desperdiça potencial

  1. Nos quadrinhos tudo fica bem mais fácil mesmo Marcelo.Quem sabe, no futuro, a Warner consegue desenvolver melhor seus crossover. Potencial para isso o canal tem de sobra. Parabéns pelo seu O Pipoqueiro.

    • opipoqueiro disse:

      Obrigado, xará!

      • Conrado Santos disse:

        Não concordo com nada. Acredito.que para uma estória contada em apenas 3 capítulos em torno de 45min, o resumo foi excelente.

        Quer detalhe por detalhe leia a hq.

        Vocês jornalistas que se julgam os fodas e adoram criticar tudo. Phds de obras feitas.

        A Warner está de parabens. A séries são ótimas.

        Quem não gosta? Não assiste.. Simples assim.

  2. Rodrigo disse:

    Vou concordar com você Marcelo, realmente de todos os personagens o que me pareceu melhor na história foi a Supergirl, eu ousaria dizer até disparadamente melhor. Acho que ela é a personagem que melhor se encaixa em fazer participações nas outras séries, não apenas em Flash, mas em Arrow e Legends também.
    Faço um adendo aqui para Felicity, ela é hilária nas cenas dela.
    Porém, cabe elogiar algumas cenas que ficaram legais, como por exemplo, a apresentação que a Felicity faz dos times no galpão e quando ela diz que é um trabalho para Supergirl, por causa da sua velocidade e esquece o Flash.
    Outra cena legal, é a surra que a Supergirl dá nos outros heróis no treinamento, poderia ter sido explorada melhor.
    Foi uma super sacada também mostrar o galpão da clássica “Sala da Justiça”, remetendo a uma futura Liga da Justiça.
    De ruim, destaco o episódio do Arrow, fugiu demais da história principal da invasão, que poderia ter sido mais aprofundada.

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