O Contador é ponto positivo para Ben Affleck

por Marcelo Seabra

Se já não bastasse ser o Demolidor e o Batman no Cinema, Ben Affleck ainda é O Contador (The Accountant, 2016). Mesmo não sendo propriamente um super-herói, nem mesmo um herói, este é o mais interessante dos três. O filme parte de alguns clichês para logo utilizá-los de maneira inteligente, chegando até a confundir o espectador, que mal pode esperar pela próxima peça do quebra-cabeça. Quando chegamos ao final, tudo se encaixa, faz sentido e é bem satisfatório.

O roteiro de Bill Dubuque (de O Juiz, 2014) nos apresenta a Christian Wolff (Affleck), um sujeito que tem um grau de autismo que lhe proporciona grande facilidade com números, mas traz alguns problemas de sociabilidade. A falta de jeito dele proporciona alguns momentos involuntários de humor que lembram Dexter, o psicopata da TV que se esforçava para sorrir para fotos. Ele trabalha como contador e seus clientes são, em sua maioria, criminosos perigosos. Ele, por assim dizer, lava a roupa suja deles. A grande habilidade em lutas e com armas permite a ele se defender de qualquer possível ataque, ou queima de arquivo. Todas essas informações são devidamente apresentadas e o personagem é bem construído.

Com o Departamento do Tesouro investigando de perto, Wolff busca um cliente legítimo para afastar suspeitas. Pessoas começam a serem mortas e ele precisa descobrir o que está havendo. No meio disso tudo, conhecemos um punhado de gente e uma das melhores qualidades do longa fica evidente: o elenco. Além de Affleck, temos Anna Kendrick (de A Escolha Perfeita 2, 2015), J.K. Simmons (de O Exterminador do Futuro: Gênesis, 2015), Jon Bernthal (o Justiceiro do Netflix), Jeffrey Tambor (de Transparent), Cynthia Addai-Robinson (de Arrow) e John Lithgow (de Interestelar, 2014). Conhecemos o suficiente de cada um deles para que o projeto funcione, e nada é simples como preto e branco.

Nos pequenos detalhes que o roteiro faz questão de apresentar, conhecemos melhor a cabeça de Wolff e seu comportamento nunca deixa de fazer sentido. Ele usa uma canção infantil para manter a calma, precisa terminar tudo que começa, tem suas coisas extremamente organizadas e está sempre pronto para uma possível fuga. Ao ajudar a colega contadora vivida por Kendrick, ele sai de seu modus-operandi e arrisca seu pescoço, algo totalmente novo para ele. Uma cena do início, em que vemos um quebra-cabeça faltando uma peça para ser completo, serve bem como metáfora para o filme, e só chegamos a essa peça ao final.

A montagem ágil é cortesia de Richard Pearson, que trabalhou também em A Supremacia Bourne (The Bourne Supremacy, 2004). O Contador tem características em comum com o universo de Bourne e isso certamente foi assunto entre os amigos Affleck e Matt Damon. A trilha discreta de Mark Isham (de Assassino a Preço Fixo 2, 2016) e a bela fotografia de Seamus McGarvey (de Peter Pan, 2015) ajudam a criar um clima de suspense muito adequado à trama, tudo muito bem amarrado pelo diretor Gavin O’Connor (de Guerreiro, 2011).

Simmons quer resolver um último caso antes de se aposentar

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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