por Marcelo Seabra
Escritas e dirigidas por James DeMonaco, as três partes de The Purge conseguem ter unidade e lógica. O conceito é interessante: uma noite por ano, num futuro não muito distante, todo tipo de crime é liberado e os serviços de atendimento são suspensos. Nessas ocasiões, teoricamente, os cidadãos devem ir às ruas extravasar, colocando para fora toda a violência que guardam. Primeiro (2013), acompanhamos o drama de uma família atacada dentro de casa. Depois (2014), partimos para a loucura das ruas, onde todos estão armados e preparados para matar ou morrer. A cada minuto, temos uma noção melhor do evento e de tudo o que acontece durante.
Nessa terceira parte, a ação toma outra dimensão e invade o mundo da política. Imagine que loucura seria não precisar reunir vários caciques de partidos ameaçados, comprar a mídia e bolar um golpe de estado para tirar alguém do caminho. Bastaria aproveitar essa única chance anual para simplesmente eliminar a figura. Leo Barnes (Frank Grillo), o sargento que conhecemos no episódio anterior, está de volta, agora como segurança particular da senadora Charlie Roan (Elizabeth Mitchell, de Crossing Lines). Entre outras medidas impopulares entre seus pares, a senadora pretende acabar com a noite da expurgação, observando que ela tem sido usada para eliminar os pobres e necessitados da sociedade.
O ponto de partida é bem promissor, mas o rumo acaba sendo repetitivo. Eles precisam resistir a doze horas de perseguições, quando quase todos à volta parecem trabalhar contra. Sempre em cenários noturnos, urbanos e sujos, o filme nos dá uma boa ideia da geografia e acompanhamos a fuga claramente. Barnes insiste em ser rabugento e desconfiado, enquanto Roan é a personificação da política que todos gostaríamos que estivesse à frente do Planalto. Estereótipos misturados, algumas situações previsíveis e temos um longa correto, sem nenhum grande momento. E a distribuidora ainda ajuda colocando esse título inexplicável e acabando com a identidade da série, talvez para não afastar quem não viu os primeiros.
O outro exemplar do cinemão americano traz Statham novamente como Arthur Bishop, que conhecemos na refilmagem de um trabalho de Charles Bronson de 1972. Bishop é um assassino contratado para simular acidentes. Suas vítimas não podem simplesmente ser assassinadas, tudo deve parecer natural. O primeiro filme é bem acabado e tem uma trama envolvente, além dos malabarismos de Bishop. Tiveram que fazer um esforço hercúleo para bolar uma situação que tirasse o sujeito da aposentadoria que ele se impôs. E aí começa o problema: uma garota é usada de isca, revela o plano para ele e, mesmo assim, ele morde. Daí em diante, é só chute e situações implausíveis.
A exemplo de James Bond, ou até de um Robert Langdon, Bishop viaja em tempo recorde entre algumas paisagens lindas para realizar seus trabalhos, todos tidos como impossíveis. Os vilões e capangas têm uma mira horrível, ao contrário do nosso herói. E vamos acompanhando no piloto automático. Nem a beleza de Jessica Alba (de A Seita, 2016) ajuda, já que atuar não é dos seus fortes. Michelle Yeoh (de O Tigre e o Dragão: A Espada do Destino, 2016), bem mais competente, não tem oportunidade para fazer muita coisa, assim como Tommy Lee Jones (de Jason Bourne, 2016).
Entre Mercenários e Velozes & Furiosos, Jason Statham anda precisando de uns projetos bacanas. Com todos esses exageros, Assassino a Preço Fixo 2 consegue ser cansativo, a última coisa que esperamos de um trabalho com o ator. Se, no cinema, a dúvida estiver entre ele e 12 Horas Para Sobreviver, a escolha é bem óbvia.
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Realmente, os filmes da franquia The Purge não são de grande construção cinematográfica. Nesse ponto, são bem medianos.
Mas a premissa da série é interessantíssima e acaba segurando bem.