Netflix traz ao Brasil The Invitation

por Marcelo Seabra

Com um lançamento tímido lá fora, o independente The Invitation (2015) não teria outra forma de chegar ao Brasil que não pelo Netflix. O serviço de distribuição disponibilizou recentemente o longa, que valeria facilmente um ingresso nos cinemas e pode ser conferido gratuitamente, no conforto de casa. E o cenário é exatamente uma casa, o que pode potencializar a experiência, já que o longa desenvolve no público uma tensão muito interessante e explora bem cada cômodo. O espectador deve ficar com receio até de ir ao banheiro no final da sessão.

Nos primeiros minutos de exibição, entendemos que um sujeito está indo, com a namorada, a um jantar na casa onde ele morava e a anfitriã da noite será justamente a ex-mulher, acompanhada pelo atual marido. É um convite estranho, ele pensa, mas vale a pena rever os amigos sumidos e dar uma chance a uma certa reconciliação com a ex. No mínimo, faltar seria uma desfeita, e ele não perderia a oportunidade de visitar sua antiga casa. Isso é tudo que se pode contar da trama sem estragá-la, cortesia da dupla Phil Hay e Matt Manfredi (de Policial em Apuros, 2014).

Trabalhando novamente com seus roteiristas de Aeon Flux (2005), Karyn Kusama estava afastada da tela grande desde Garota Infernal (Jennifer’s Body, 2009). Com The Invitation, ela mostra que tem perfeito controle de ritmo, com uma montagem que propicia um crescendo no clima de tensão, deixando o público no escuro e com a pulga atrás da orelha. A trilha de Theodore Shapiro (do novo Caça-Fantasmas, 2016) só contribui, numa sutileza que casa bem com a fotografia detalhada de Bobby Shore ( da série Man Seeking Woman), que nos dá a dimensão perfeita da casa onde todos estão.

Ao contrário do que houve com Aeon Flux, aqui Kusama teve controle criativo e conseguiu entregar o longa que havia planejado. Ajuda muito ter um elenco competente, homogêneo, capitaneado pelo carismático Logan Marshall-Green (de Madame Bovary, 2014). Uma produção independente pode ser mais árdua e restringir o orçamento, mas funciona muito bem nas mãos de uma diretora experiente que chama para bordo seus comparsas habituais. Juntos, eles fazem o máximo com os recursos disponíveis.

Marshall-Green é um dos trunfos do longa

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

Recent Posts

Grazi e Gianecchini são Uma Família Feliz

Expoente da literatura de terror nacional, Raphael Montes já vendeu estimados 500 mil livros e…

4 semanas ago

Oscar 2024 – Indicados e Previsões

Com apresentação de Jimmy Kimmel (abaixo), que exerce a função pela quarta vez, a 96ª…

2 meses ago

Oscar 2024: comentários de um convidado

por Alexandre Marini Marcelo Seabra me convidou para escrever um pouco sobre minha percepção a…

2 meses ago

Família da luta livre tem sua história contada em Garra de Ferro

A partir do final da década de 70 e por todos os anos 80, houve…

2 meses ago

Parte Dois de Duna chega mantendo o nível

Depois das 2h35min da primeira parte, chega aos cinemas essa semana Duna: Parte Dois (Dune:…

2 meses ago

Pacote Oscar 2024

Conheça melhor alguns dos indicados ao Oscar 2024: Maestro (indicado a sete Oscars) Esforço gigantesco…

2 meses ago

Thank you for trying AMP!

We have no ad to show to you!