por Rodrigo “Piolho” Monteiro
Em exibição na TV norte-americana desde janeiro, o piloto da série Lucifer é mais uma adaptação dos quadrinhos da DC Comics cujo episódio inicial caiu “acidentalmente” na internet meses antes de seu lançamento. As aspas utilizadas em “acidentalmente” se justificam pelo fato de ser muito estranho que esse seja o quarto piloto de uma série baseada em quadrinhos que é vazado na Internet em menos de um ano. Anteriormente, os episódios-piloto de The Flash, Constantine e Supergirl também vazaram bem antes de suas estreias, o que talvez seja parte de uma nova estratégia da TV americana (especialmente dos canais abertos) de determinar a recepção de um espectro mais amplo do público ao seu produto e, se necessário, fazer ajustes para torná-lo mais aceitável antes da temporada efetivamente começar.
Criada por Tom Kapinos (de Californication), a série é baseada livremente nos conceitos estabelecidos por Neil Gaiman, que criou Lucifer Morningstar para ser coadjuvante em Sandman, e Mike Carey, que escreveu a série do personagem por todas as suas 75 edições. E, apesar do que o título possa dar a entender, não se trata de uma série sobre um demônio tentando arrebatar almas e levar os humanos a cometerem pecados que os levem a passar a eternidade no Inferno. Pelo contrário, esse Lucifer é um cara charmoso, um empresário bem-sucedido, com um pesado sotaque inglês e que tem o talento de fazer com que as pessoas lhe revelem seus maiores segredos. E ele utiliza-se dessa habilidade para combater o crime, ainda que de maneiras tortuosas.
Aqui cabe uma contextualização rápida: durante o arco de Sandman Estação das Brumas, Lucifer decide abandonar o Inferno. Ele expulsa todas as almas condenadas e demônios do local, fecha os portões do Inferno e entrega as chaves para Sonho, dos Eternos. Daí, resolve se estabelecer como dono de um piano-bar chamado Lux, em Los Angeles.
O episódio piloto de Lúcifer (Tom Ellis, de séries como Once Upon a Time, The Strain e Dr. Who) começa quando uma cantora pop cuja carreira foi impulsionada graças à sua influência sofre um atentado, sendo morta a tiros. Ele é pego no fogo cruzado, mas, como é imortal – algo que repete sem pudores ao longo de todo o episódio – não só consegue sobreviver como interrogar o atirador antes que ele passe desta pra pior. Quando a polícia aparece, liderada pela detetive Chloe Dancer (Lauren German, de O Albergue 2), Lucifer insiste em fazer parte da investigação. Isso obviamente lhe é negado. Ao longo do episódio, no entanto, ele prova ser de grande utilidade para Chloe que, graças à sua ajuda, consegue fechar a investigação. Paralelamente, através do anjo Amenadiel (D.B. Woodside, de séries como Suits e 24 Horas), vemos os efeitos que a presença de Lucifer na Terra tem causado tanto no inferno quanto no próprio planeta e como isso pode acabar desencadeando uma guerra tendo a humanidade no fogo cruzado.
Se o piloto de Lucifer dá o tom da série, o que veremos em sua primeira temporada será algo relativamente clichê, com Lucifer e a detetive Dancer se unindo a cada semana para solucionar casos, enquanto a questão da possível guerra para que o novo comandante do Inferno seja definido ocorre paralelamente. O principal atrativo aqui, portanto, é justamente o protagonista. Tom Ellis é um Lucifer charmoso, fanfarrão e que se leva muito pouco a sério, lembrando muito as características que John Glover deu ao seu diabo na subestimada série Brimstone, do fim dos anos 1990, tornando-o um personagem bastante divertido e fácil de simpatizar. Isso, no entanto, não o impede de mostrar seu lado demoníaco quando necessário. E é essa abordagem de Tom Ellis ao Estrela-da-Manhã que faz com que Lucifer seja uma série que vale à pena conferir. Mesmo com a primeira temporada já finalizada lá fora, ainda não há previsão para exibição por aqui.
Gostei da série justamente pelo protagonista, é o único diferencial, sendo de fato clichê no resto. Sujeito diferenciado (pode ser um gênio, alguém com poderes ou neste caso o próprio diabo) se aliando a policial para solucionar casos policiais, dá para enumerar algumas dezenas de exemplos, mas, como bem destacado o destaque é mesmo a interpretação do protagonista, divertidíssima.