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Brasileiro comanda policial paranormal

por Marcelo Seabra

Depois de uma estreia forte, com o policial 2 Coelhos (2012), o diretor Afonso Poyart partiu para comandar um projeto fora do Brasil. Acabou se deparando com um roteiro escrito há muito, cujo objetivo era ser uma sequência de Seven (1995), ideia que foi logo descartada. Como uma obra original, ela foi adiante e se deparou com outro problema: quem iria distribuir? Muita luta depois e Presságios de um Crime (Solace, 2015) consegue finalmente chegar aos cinemas. De um trabalho que reúne Anthony Hopkins e Colin Farrell, esperava-se mais facilidade no aspecto financeiro.

Escrito por Ted Griffin (de Roubo nas Alturas, 2011) com colaboração do produtor Sean Bailey (de Tron: O Legado, 2010), o texto ainda passou nas mãos de Peter Morgan (de Rush, 2013) e James Vanderbilt (dos dois Homem-Aranha mais recentes) antes de ser filmado. Toda essa confusão é visível, há uma mudança brusca de ritmo a partir de uma hora de exibição e muitas coisas são resolvidas de qualquer jeito, além de vermos clichês pulando na nossa cara em muitos momentos.

O personagem de Hopkins (de Jogada de Mestre, 2015) é similar ao detetive de Morgan Freeman em Seven, é a voz da experiência. Mas, além de ter se retirado da vida de investigações após a morte da filha, ele tem um poder paranormal que lhe permite ver além das evidências. Mas é aquele poder fajuto que dá alguns elementos sem esclarecer o que realmente está acontecendo. No caso de um serial killer, ele tem flashes, mas não consegue chegar à identidade do sujeito. Jeffrey Dean Morgan (de Possessão, 2012) e Abbie Cornish (de RoboCop, 2014) fazem a dupla de agentes do FBI que precisarão da ajuda do vidente, já que estão totalmente sem pistas. Eles terão que fazer um esforço para o recrutamento, já que o veterano mora num sítio afastado e não tem planos de voltar à cidade.

As coisas mudam radicalmente quando entra em cena o personagem de Farrell (de Sem Perdão, 2013), e os diálogos/duelos travados entre ele e Sir Hopkins são o ponto alto do longa. Mas é exatamente daí em diante que as coisas, que já eram mornas, ficam estranhas e fracas, até chegarem a um final bem insatisfatório. Se, em tema, Presságios de um Crime queria se aproximar de Seven, em realização eles não poderiam ser mais diferentes. E Hopkins, há muito tempo no piloto automático, rouba alguns trejeitos de seu Hannibal Lecter e não consegue sair do lugar comum. Todo o filme gira em torno dele e de sua jornada de “herói traumatizado pela vida que decide dar a volta por cima protegendo inocentes e cumprindo a lei”, o que fica claro desde o início.

Poyart demonstrou muito estilo em 2 Coelhos e a crítica principal feita ao filme, na época do lançamento, é que parecia muito uma produção americana. História muito entrecortada, explosões, efeitos especiais e uma trama romântica eram os elementos de uma produção que podia ser de qualquer país, não tira cara de brasileira. O que não deixa de ser bom, tirando-a da categoria “filme brasileiro” e colocando-a como “filme policial”. Este Presságios de um Crime ficou apenas na categoria “filme genérico”, que se não é ruim, tampouco é bom.

A expressão fixa de Farrell não ajuda em nada

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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