por Marcelo Seabra
Da série “refilmagens desnecessárias de longas recentes”, chega aos cinemas Caçadores de Emoção: Além do Limite (Point Break, 2015), filme que reconta as aventuras de um agente infiltrado que acaba gostando dos suspeitos. Isso, muito antes de Velozes e Furiosos (The Fast and the Furious, 2001) repetir a fórmula, o que deixa uma produção de hoje com gosto de reprise. O que, no caso, é elevado à enésima potência, sendo apenas mais uma aventura chutada e cansativa em meio a tantas lançadas todos os anos.
No longa de 1991, tínhamos uma diretora criativa, Kathryn Bigelow, que conseguia mexer um pouco no lugar-comum, além de uma dupla carismática como protagonista: Patrick Swayze e Keanu Reeves. Nesta nova roupagem, o responsável atende por Ericson Core (quem?), profissional que funciona bem como diretor de fotografia, mas que não acrescenta nada como cineasta. Alguns trechos lembram vídeos de esportes radicais do YouTube, ou seja: interessantes, mas nada inovadores. As tomadas mais criativas são também as menos verossimilhantes, que tira o público da ação tamanho é o exagero.
O outro ponto que funcionou melhor anteriormente diz respeito ao elenco. Agora, temos no papel de agente do FBI Luke Bracey, sujeito que traz no currículo G.I. Joe 2 (2013) e November Man (2014), dois dos piores filmes de seus anos. Duro e inexpressivo, o ator fica longe de Reeves, que era igualmente desprovido de emoções, mas balanceava com um certo charme, ou algo do gênero. Bodhi, o óbvio chefe da gangue, é o único que consegue soprar um pouco de vida no projeto, bem defendido por Edgar Ramirez (em cartaz em outra besteira, Joy, 2015). Os dois veteranos, trazidos para dar peso, se mostram constrangidos. Ray Winstone (de O Franco-Atirador, 2015) e Delroy Lindo (de Cymbeline, 2014) deviam ter contas vencendo e toparam a roubada. A belíssima Teresa Palmer (de Meu Namorado É um Zumbi, 2013) faz exatamente o que as principais atrizes da temporada evitam: serve apenas como colírio para o público masculino, usada quando é necessária.
A trama, que mantém os elementos básicos de Rick King e W. Peter Iliff, foi modernizada por Kurt Wimmer, que vem de outra refilmagem desnecessária e mal sucedida: O Vingador do Futuro (Total Recall, 2012). Modernizar, no caso, significa trazer todo tipo de esporte radical, já que apenas o surfe original não seria suficiente. Para isso, foi criada uma espécie de filosofia em que um maluco propunha desafiar a natureza em oito provas, as Oito de Ozaki. Com tudo muito mal explicado, descobrimos que os criminosos são uma espécie de gangue de Robin Hoods que têm essa motivação esdrúxula: completar as provas e se aproximar da natureza, descobrir o ponto de quebra do ser humano, vencer limites ou alguma besteira do gênero. O roteiro se vê na obrigação de ir cada vez mais longe, causando os tais exageros e várias outras inconsistências, já que as ações do agente dependem da conveniência. Vai prender ou não vai? Nunca sabemos.
Johnny Utah, o tal agente, é uma incógnita. Uma tragédia fajuta o faz abandonar tudo, sumir por anos e aparecer dentro do FBI, no exato momento de assumir uma missão que é a cara dele. Todos no Bureau, sem exceção, são malas que não param de falar para deixar claro que não acreditam nas teorias de Utah. Ah, não, há uma exceção: o chefe que vai lutar contra tudo e contra todos para permitir a missão, fazendo o batido discurso de “colocar o seu na reta”. Bodhi, o contraventor, é apresentado de forma que já sabemos exatamente de quem se trata e o que vai acontecer, cabendo a Ramirez a difícil missão de trazer alguma dimensão ao personagem. Mesmo com essa filosofia rasa e confusa. Por que alguém seguiria esse suicida? E a química entre Ramirez e Bracey inexiste, enquanto Swayze e Reeves pareciam praticamente um casal.
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