por Rodrigo “Piolho” Monteiro
Desde que entrou no mercado com suas produções originais, o Netflix prometia ser uma espécie de versão streaming da HBO no que diz respeito à qualidade do que apresenta. Séries como House of Cards, Orange is the New Black, Demolidor e Jessica Jones, só para citar as mais famosas, mostraram que o Netflix tem bastante cuidado no que investe quando produz conteúdo original. Esse mesmo cuidado com a qualidade de seus produtos era algo que se esperava também quando o Netflix começou a produzir filmes originais, além de séries. Beasts of No Nation, estrelado por Idris Elba (Luther, Thor) parecia indicar que essa tradição seria seguida também nos seus longas. Aí o Netflix resolveu fazer uma parceria com a Happy Madison, de Adam Sandler. Desnecessário dizer que o primeiro resultado dessa parceria ficou dentro do esperado, ou seja, traz o selo de qualidade de Sandler. O que, todos sabemos, só pode ser algo bem ruim, que abusa da inteligência e da paciência do espectador. Os 6 Ridículos (The Ridiculous 6, 2015) pode não ser péssimo, mas é mais um produto descartável na longa carreira de filmes descartáveis estrelados por Sandler.
Co-escrito pelo próprio Sandler e seu parceiro de longa data, Tim Herlihy, Os 6 Ridículos tenta pegar inspiração dos faroestes italianos dos anos 1960 e começa quando somos apresentados a Faca Branca/Tommy Stockburn (Sandler), um garoto branco que fora adotado por uma tribo de índios após sua mãe ter sido assassinada. O simples fato de ser um branco adotado por índios, como todos sabemos, faz com que a criança adotada, ao crescer, desenvolva “poderes místicos”. No caso de Sandler, ele desenvolve supervelocidade, uma mira perfeita e certas capacidades telepáticas das quais, sabe-se lá porque, ele se esquece quando o roteiro pede.
Faltando poucos dias para que Faca Branca se case com Raposa Quente (Julia Jones, da série Crepúsculo), o pai que ele não conhecia, Frank Stockburn (Nick Nolte, de Noé) aparece do nada na tribo para revelar a Tommy um grande segredo. Ao longo de sua vida, Frank fora um fora-da-lei e, agora que sofre de uma doença fatal, quer dividir a fortuna que amealhou com o filho. Para isso, precisa da ajuda de Faca Branca para desenterrar os US$ 50.000 da base de um pinheiro localizado a poucos quilômetros da tribo. Apesar de não querer o dinheiro, Faca cede ao argumento do pai e decide ajudá-lo.
Coincidentemente (ou não), na manhã em que a dupla está partindo, a tribo supostamente isolada é visitada pela gangue de Frank. Liderada por Cícero (Danny Trejo, de Machete), a gangue quer justamente o dinheiro que Frank enterrara e que, segundo Cícero, deveria ser dividido igualmente entre os membros do bando. Hesitantemente, Frank decide levar seus ex-parceiros aonde o dinheiro estaria enterrado, mas, ao invés de dar a localização do pinheiro, diz que ele está escondido aos pés de um moinho que ficaria a 10 dias de cavalgada. Vendo o pai que conhecera há menos de um dia nessa situação, Faca Branca decide, novamente, ajudá-lo. Assim, após procurar pelo tal pinheiro sem sucesso, elabora um plano “brilhante”: vai usar seus dons para assaltar bancos em diversas cidades até conseguir os 50 mil que seu pai deve à gangue e alcançá-los antes que cheguem ao tal moinho.
Assim que vai assaltar o primeiro banco na primeira cidade, Faca/Tommy descobre que seu pai passara por lá quando mais jovem e deixara a dona da pensão grávida. Do relacionamento dos dois nasceu Ramon (Rob Schneider), que, assim que descobre ser meio-irmão de Tommy, resolve ajudá-lo em seu plano para impedir que o pai que não conhece seja morto por membros de sua gangue. Na mesma cidade, Tommy e Ramon trombam com Lil’ Pete (Taylor Lautner, da série Crepúsculo), um roceiro com certo retardo mental que, adivinha só, também é filho de Frank. Pete também decide ajudar Tommy em sua missão.
Não demora muito e o trio acaba cruzando com o mudo (e também meio ruim da cabeça) Herm (Jorge Garcia, o Eterno Hurley de Lost), que também é filho de Frank e também resolve ajudar Tommy. Na próxima cidade a assaltarem, o agora quarteto acaba trombando com Danny (Luke Wilson, de Deixa Rolar, 2014) que, sim, também é filho de Frank, e Chico (Terry Crews, da série Os Mercenários). Pra variar, Chico é mais um filho de Frank. Os 6 Ridículos (alcunha que lhes é atribuída por autoridades da região) estão prontos para arriscar sua liberdade – e suas vidas – por um pai que não conhecem e que os abandonara quando crianças.
Daí pra frente, o filme apresenta as mesmas características de qualquer produção da dupla Sandler/ Herlihy: piadas envolvendo fluidos corporais, soluções sem sentido para situações sem sentido e imensos furos em uma trama que já é bastante furada. Pelo fato de ser um filme ambientado no Velho Oeste, ainda temos o desprazer de ver figuras históricas “homenageadas”: David Spade (da série Rules of Engagement), Blake Shelton (cantor country jurado do American Idol) e Vanilla Ice (o rapper dos anos 1990) vivem, respectivamente, o General Custer (famoso oficial do exército americano durante a Guerra de Secessão), Wyatt Earp (xerife lendário no oeste americano) e o escritor Mark Twain em participações que devem ter feito os homenageados se revirarem em suas tumbas. Will Forte (da série Last Man on Earth), Steve Zahn (de Clube de Compras Dallas), Harvey Keitel (O Grande Hotel Budapeste), Jon Lovitz (Gente Grande 2), Steve Buscemi (Boardwalk Empire), John Turturro (Êxodo: Deuses e Reis), além da esposa de Sandler, Jackie, e seus filhos completam o elenco em participações que variam de vergonha alheia a “estou nessa só pela grana”.
No fim das contas, Os 6 Ridículos não foge em nada do que Adam Sandler geralmente entrega a seu público (que, por algum motivo, continua privilegiando seus filmes). Não é nada tão ruim quanto os filmes que os irmãos Wayans produzem, mas também não vale as quase duas horas que se gasta para assisti-lo. E espere ver mais de Sandler e seus filmes de qualidade duvidosa no Netflix, já que o site e sua Happy Madison têm um acordo para produzir mais três filmes a serem exibidos exclusivamente ali. Esperemos que isso signifique, pelo menos, que teremos menos filmes de Sandler ocupando salas de cinema que poderiam ter um uso melhor para seu espaço.
Péssimos argumentos para se usar em um filme de comédia
Acho que mais gente andou errando.
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CEO da empresa fala sobre o sucesso da comédia de Adam Sandler
Muita gente viu, o que não faz deixar de ser ruim.