por Marcelo Seabra

Abaixo, alguns dos destaques recentes nos cinemas e na televisão.

Straight Outta Compton – A História do N.W.A. (2015)

O diretor F. Gary Gray (de Código de Conduta, 2009) aproveita sua longa ligação com a música, principalmente o rap e o hip hop, para contar a história do N.W.A., grupo formado em 1986 na perigosa cidade californiana Compton. Jovens que viriam a se tornar bem famosos se uniram para falar contra a violência, a pobreza e outras mazelas que faziam parte do dia a dia deles. Mas, também, tinha muito machismo, ataques a desafetos e valorização de riqueza, sexo e festas. Um bom elenco representa figuras como Dr. Dre, Ice Cube e Easy E e temos ainda Paul Giamatti (de Terremoto, 2015) no papel de um empresário de moral um tanto duvidosa. O resultado, como a maior parte da obra de Gray, não passa do correto, deixando aqui a impressão de que o rabo preso com os produtores, os artistas retratados, impediu o longa de ir além na imagem que pinta de todos.

Como Sobreviver a um Ataque Zumbi (Scouts Guide to the Zombie Apocalypse, 2015)

A comédia é um gênero que costuma tratar bem zumbis, caso de Zumbilândia (Zombieland, 2009), Meu Namorado É Um Zumbi (Warm Bodies, 2013) e o quase clássico Todo Mundo Quase Morto (Shaun of the Dead, 2004), entre outros. Mas não é o caso desse suposto guia de sobrevivência, que traz três escoteiros que precisam enfrentar uma horda de mortos-vivos enquanto estão com tesão, procurando uma festa com as meninas em quem estão interessados. O elenco, encabeçado pelo competente Tye Sheridan (de Amor Bandido, 2012), passa por maus bocados com um roteiro infantil escrito por três pessoas que devem rir de piadas de banheiro. Christopher Landon (de Atividade Paranormal: Marcados pelo Mal, 2014) deveria pensar seriamente antes de dirigir qualquer coisa novamente, até um carro.

Longe Deste Insensato Mundo (Far From the Madding Crowd, 2015)

A história de Thomas Hardy ganha nova adaptação pelas mãos de Thomas Vinterberg, que partiu do denso A Caça (Jagten, 2012) para este romance dramático muito bem fotografado e atuado. Se a nossa heroína, Bathsheba Everdene (vivida por Carey Mulligan, de Inside Llewyn Davis, 2013), começa como uma mulher forte e independente, ela logo se torna uma bobinha, como de costume na obra de Hardy, e terá que escolher entre três pretendentes: o humilde e habilidoso Gabriel Oak (Matthias Schoenaerts, de Prazeres Mortais, 2014), o mulherengo sargento Francis Troy (Tom Sturridge, de Na Estrada, 2012) e o solteirão milionário William Boldwood (Michael Sheen, da série Masters of Sex). Claro que a garota tomará as piores decisões possíveis e o longa deve arrancar lágrimas de muita gente.

A Visita (The Visit, 2015)

O megalomaníaco M. Night Shyamalan vem descendo o barranco há alguns anos, o que é uma lástima, tendo em vista seus primeiros trabalhos – o mais lembrado costuma ser O Sexto Sentido (The Sixth Sense, 1999). Depois das últimas catástrofes, este A Visita até representa uma melhora, o que não é um grande elogio. Usando o batido recurso das “filmagens encontradas”, ou caseiras, ele acompanha dois adolescentes (Olivia DeJonge e Ed Oxenbould) que partem para outra cidade para visitar os avós que não conhecem. A mãe deles (Kathryn Hahn) fugiu de casa jovem, com um namorado mais velho, e agora manda os filhos pra longe enquanto viaja com o parceiro atual. O casal de velhinhos (Deanna Dunagan e Peter McRobbie) vai muito além de ser apenas excêntrico e é a melhor coisa do filme. O problema é a falta de sentido da coisa toda, desde as filmagens da garota, perfeitas e de ângulos criativos e diversos, ao comportamento dos avós, passando pela previsível virada do roteiro, algo obrigatório tratando-se de Shyamalan.

Victor Frankenstein (2015)

Partindo da mesma ideia de “origens” que Drácula: A História Nunca Contada (Dracula Untold, 2014), este Victor Frankenstein resolve apresentar uma história que ninguém conhece porque acabou de ser inventada. Contada do ponto de vista do assistente Igor (Daniel “Harry Potter” Radcliffe), a trama mostra como os dois se conheceram e como Victor (James “Charles Xavier” McAvoy) chegou a criar um ser vivo, a criatura conhecida por seu sobrenome. O simples fato de tomarem liberdades quanto à fonte não é problema algum, o Cinema está sempre reinventando alguma coisa. O problema é quando estas liberdades são esdrúxulas e abusam da paciência do espectador, que precisa aturar situações mirabolantes e até irritantes, caso do detetive vivido por Andrew Scott, que está bem mais caricato que em 007 Contra Spectre (2015).

Tudo Que Aprendemos Juntos (2015)

O engenheiro e empresário Antônio Ermírio de Moraes, falecido no ano passado, teve uma de suas três peças adaptadas para o Cinema, com a direção a cargo do baiano Sérgio Machado (de Cidade Baixa, 2005). No longa, Lázaro Ramos (também de Cidade Baixa) é um músico experiente que, devido ao nervosismo, não consegue ser aprovado para a orquestra que tanto deseja. Para se sustentar, escuta um amigo e se torna professor de violino de uma escola estadual da periferia de São Paulo. A jornada de Laerte será a mesma que já vimos em diversos filmes – é uma trama bem comum no Cinema americano – e os vários roteiristas não conseguem fugir do óbvio. Ramos e os garotos que trazem um diferencial ao projeto, que ao fim da sessão poderá ser classificado como “bonitinho”.

Beasts of No Nation (2015)

O serviço de distribuição Netflix lançou em outubro Beasts of No Nation (2015), longa escrito e dirigido por Cary Joji Fukunaga (da primeira temporada de True Detective) que adapta o livro do nigeriano Uzodinma Iweala. O filme acompanha um garoto (o ótimo Abraham Attah) durante uma guerra civil em um país africano não identificado e nos apresenta à barbárie onde os dois lados são sanguinários e parece não haver uma boa saída. A fotografia é muito bonita, Idris Elba (de O Franco-Atirador, 2015) está fantástico como o comandante da milícia e a trama traz alguns socos no estômago. O fato de não sabermos onde se passa a ação e a chegada salvadora do Ocidente são pontos negativos, mas não enfraquecem o resultado.

Keith Richards: Under the Influence (2015)

O famoso guitarrista dos Stones aparece como protagonista de um documentário que começa como uma entrevista e vai seguindo o caminho que o sujeito indica, passando por suas influências na música. Servindo também para fazer publicidade de Crosseyed Heart, mais novo trabalho solo de Richards, o documentário, que é uma produção original Netflix e está disponível no serviço, ajuda a desmistificar a ideia que se tem do músico, geralmente lembrado como alguém que fica chapado o dia inteiro, quebra o pau com os colegas de banda – especialmente Mick Jagger – e seria um instrumentista limitado. Tudo balela, como se pode ver no longa do premiado diretor e produtor Morgan Neville.

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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