Novas séries são derivadas do Cinema

por Marcelo Seabra

No Cinema, o número de sequências, remakes e outros diversos tipos de obras não originais já é grande há algum tempo. E o fenômeno da repetição tem chegado forte à TV também, com séries baseadas em conceitos anteriormente desenvolvidos em filmes. Dois exemplos recentes são Minority Report e Limitless,  que partem de onde seus irmãos mais velhos pararam, tentando manter o interesse mesmo que sobre algo que já conhecemos. Ambas têm tramas que se passam após os eventos conhecidos, procurando expandir seus universos.

Baseado num conto de 1956 de Philip K. Dick, o filme Minority Report (2002) chamou bastante atenção não só por seu ótimo elenco, capitaneado por Tom Cruise, mas pelas ideias apresentadas. A polícia daquele futuro conseguia prender os criminosos antes do crime acontecer, apoiando-se nas previsões de três jovens videntes – os PreCogs – que eram mantidos presos e sedados. A série acompanha exatamente esses três, que foram libertados em segredo após o fim do programa de prevenção, sem qualquer registro, documento ou ficha policial.

Dash (Stark Sands, de Inside Llewyn Davis, 2013) era tido como o PreCog menos poderoso, aquele que pegava as peças que passaram direto nas visões dos outros dois, complementando. E ele é o nosso protagonista, alguém que não consegue ficar longe sabendo que pode ajudar (como Agatha, vivida por Laura Regan) e muito menos pensa em lucrar com seu talento (como Arthur, interpretado por Nick Zano, de 10 Anos de Pura Amizade, 2011). Como ele não consegue todas as informações necessárias, está sempre chegando atrasado em alguma cena de crime. É aí que entra a policial Lara Vega (Meagan Good, de Tudo por um Furo, 2013), que tenta alistar Dash em sua luta contra o crime (na foto acima, Good e o colega Wilmer Valderrama).

Como não há nenhuma novidade realmente importante que a série possa trazer, a impressão que fica é que o bando de roteiristas inventa o crime da semana a ser resolvido enquanto pensa em inovações tecnológicas para manter o interesse do público. Afinal, a ação se passa cinquenta anos no futuro, é preciso inventar muita coisa. Quando isso falha, ou não é o bastante, sempre pode-se apelar aos atributos físicos de Good, colocando-a em roupinhas apertadinhas, como se isso fosse o suficiente para manter a audiência. No fim, é apenas mais uma série de procedimentos policiais, com investigações, crimes escabrosos e uma subtrama que vai se arrastar até o final da temporada, quiçá da série.

Melhor sucedida foi Limitless, que conseguiu usar o NZT-48 para criar mais personagens. Não se trata mais do “crime da semana”, mas de descobrir quem criou essa fantástica droga e tudo o mais que a envolve. Eddie Morra, que Bradley Cooper viveu no longa Sem Limites (2011), agora é senador, e não é ele que acompanhamos, mas Brian Finch (Jake McDormand, de Sniper Americano, 2014), um sujeito normal que ganha um comprimido de NZT-48 de um amigo e se vê envolvido em assassinatos. Ele precisa provar sua inocência e conseguir mais comprimidos, já que ninguém que experimenta esse nível de consciência quer voltar para trás.

Assim como em Minority Report, temos o cara se unindo a uma autoridade feminina, no caso uma agente do FBI (Jennifer Carpenter, nossa eterna Debra Morgan de Dexter). Ele pretende usar a ajuda do bureau, que por sua vez vai manipulá-lo para chegar ao que estão buscando. Morra, que pode vir a ser o próximo presidente dos Estados Unidos, também tem seus planos para Finch, que fica no meio desse fogo cruzado, o que pode levar a disputas interessantes.

Há um aplicativo que faz o celular atuar como controle remoto, o Peel Smart Remote App, que capta quanto tempo a pessoa insistiu em determinado programa. Na temporada passada de estreias, os seriados que conseguiam segurar os espectadores por um mínimo de 15 minutos tiveram sucesso. Essa passou a ser mais uma ferramenta para medir níveis de audiência, e ela já indica a superioridade de Limitless em relação a Minority Report, que não deve sobreviver para uma próxima fornada. E nem precisava de muita tecnologia, essa é a conclusão que chegamos ao assistir aos primeiros episódios de cada uma.

O elenco de Minority Report promoveu a série na Comic Con

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

View Comments

  • De fato, é bastante questionável e cada vez mais frequente. Bates Motel, Hannibal, Scream (série da MTV e agora, aparentemente, comprada pela Netflix - já que está carimbando com "Produção Original Netflix") e tantas outras...
    Sem contar aquelas que tentam ir além, expandindo universos cinematográficos (como a Marvel com Agents, Demolidor e tantas outras). Ainda acho que estas se saem melhor que aquelas, por pelos menos tentar trazer algo novo e se esforçarem criativamente falando.
    As que são diretamente ligadas aos filmes eu realmente só constato uma verdadeira crise criativa em Hollywood... Mas geram alguns momentos bons, como, por exemplo, a ótima-satírica-e-guilty-pleasure Scream...

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